A crise e seus efeitos
EDITORIAL
FOLHA DE SP - 21/09/11
A queda de quase 13% do real desde o início de setembro impressiona pela rapidez. Desde 2010, o governo vinha adotando medidas cada vez mais fortes para conter a alta do real. Mais recentemente interveio no mercado de derivativos, onde se fecham contratos e se especula sobre o valor do dólar no futuro.
Essas medidas vinham conseguindo limitar o ritmo da valorização, sem inverter seu curso. Eis que, no mês passado, surgiu a mudança doméstica mais propensa a afetar a trajetória do real -a queda nos juros básicos do Banco Central.
A decisão do BC inseriu dose extra de incerteza nas contas de agentes financeiros. Em que medida o governo brasileiro perseguirá juros mais baixos a despeito do controle da inflação e do gasto público?
Não se podem menosprezar, igualmente, as alterações no quadro global. Não resta mais sombra de dúvida de que as perspectivas de crescimento dos países centrais, já esquálidas, tendem a piorar. As esperanças de retomada na segunda metade deste ano foram frustradas.
Com o pessimismo em alta, a resistência das nações emergentes começa a ser questionada. O agravamento da crise europeia tem tornado menos distante um cenário de nova derrocada financeira e já se vislumbra um corte de juros na próxima reunião do Banco Central Europeu. Ontem o FMI revisou mais uma vez para baixo sua estimativa acerca do crescimento mundial em 2011, e países como China, Índia e Brasil não escaparam do corte.
É certo, por outro lado, que permanecem razões de fundo para a sustentação do real forte. No comércio externo, o alto preço das mercadorias mais vendidas pelo Brasil continua a impulsionar exportações. Até meados de setembro, o saldo acumulado em 2011 superava US$ 23 bilhões (maior que o de 2010 inteiro). Na conta corrente (a soma de todas as transações, inclusive financeiras, com nações estrangeiras), o deficit de 2011 pode ficar aquém de US$ 50 bilhões -valor baixo, inferior a 2% do PIB.
O mais importante, neste momento de instabilidade, é que as autoridades brasileiras se preparem para responder de pronto aos efeitos da crise global que ameacem a atividade e as finanças domésticas.
Aumentar a poupança do governo seria providencial, mas os sinais de Brasília vão no sentido contrário.
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