O mar está para tubarões
VINÍCIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 12/07/11
Brasil brinca de trenzinho bala enquanto há crise na finança e loucura política na elite do mundo ricoNÃO BASTASSEM todos os problemas reais na economia e nas finanças no centro do mundo, há um surto demente de pequenez, irresponsabilidade ou atitudes francamente bucaneiras nas elites dos Estados Unidos e da Europa.
Não se trata nem de dizer que tais atitudes prejudicam o povo miúdo do mundo rico, ou que estilhaços podem nos atingir. Essas elites atiram no próprio pé e, quem sabe, daqui a pouco, na própria cabeça.
Considere-se o caso de EUA, Itália e alta finança europeia.
No final de semana, o Partido Republicano fez ameaça terminal de levar o governo federal dos Estados Unidos às cordas.
Como se sabe, os republicanos chantageiam Barack Obama. Ou o presidente e os democratas concordam em reduzir o deficit público por meio de cortes de gastos em programas sociais ou não aprovam a elevação do teto do endividamento federal. Parece estrambótico, mas, se o governo dos EUA não puder fazer mais dívida, em tese dará calotes a partir do final deste mês.
No caso mais estapafúrdio, de os EUA não poderem fazer mais dívida, apenas uma crise política seria café pequeno. Obama pode simplesmente ignorar o Congresso, apelar a uma chicana e continuar a pagar as contas. De outro modo, o mundo em tese quebra. A poupança do mundo está em títulos da dívida americana. O capital dos bancos está nesses títulos. E a garantia de zilhões de contratos financeiros.
A julgar pela reação do mercado financeiro, ninguém parece acreditar na hipótese do juízo final. Mas, com a finança ainda com água pelo nariz, uma marola pode bastar para um afogamento pelo menos rápido, que, no entanto, aguaria ainda mais o crescimento econômico pífio de agora. No cenário menos absurdo, o corte de despesas do governo dos EUA vai ajudar a emperrar ainda mais a economia.
Quanto à Itália, a gente sempre pode esperar o pior de um tipo como Silvio Berlusconi. Mas até aqui ele não bulia com as finanças do país. Mas o tipo começou a fritar o seu ortodoxo (mas politicamente enrolado) ministro das Finanças.
A Itália está com água pelo nariz. Se tiver de pagar mais caro para financiar sua dívida, vai pegar a mesma malária econômica de Grécia e Portugal. Mas, se a Itália ficar doente, faltará remédio para gregos e portugueses, que irão à breca.
Por falar em gregos, a elite europeia (banca, Banco Central Europeu, governos nacionais) não consegue chegar a um acordo sobre como financiar a dívida grega, arrancar algum dinheiro dos credores europeus e não ver as agências de classificação de risco classificarem essa "ajuda privada" de calote.
Se as agências fizerem tal coisa, os bancos gregos quebrarão, haverá prejuízos no BCE, algumas perdas para bancos europeus e o mercado cobrará ainda mais para financiar a "periferia europeia" (gregos, latinos menos a França e a Irlanda). Ou seja, a elite política europeia se encalacrou no próprio sistema que criou e pregou -além de uma zona do euro disfuncional, estão presos à ditadurazinha inepta das agências de risco.
O Brasil deveria estar em alerta máximo -se não bastasse tudo isso, há ruídos vindos da China.
Mas boa parte do governo de Dilma Rousseff está brincando de trenzinho-bala e outras bobagens.
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