O dinheiro fácil
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/07/11
É direito geral saber, e do governo é dever informar, os envolvimentos do BNDES na realização da Copa-14AINDA A 36 MESES da Copa no Brasil, a Presidência da República já deve algumas explicações aos cidadãos, caso queira salvar certa parcela de relações límpidas com a opinião pública sobre seus envolvimentos com essa festa de custo multibilionário. A outra parcela do todo já está perdida com o sistema de concorrências para a contratação de obras e serviços, ao qual a Controladoria-Geral da União, por artigo de seu respeitável presidente Jorge Hage, e o Tribunal de Contas da União fazem restrições importantes. E são as duas entidades mais autorizadas em tais apreciações.
A dívida é da Presidência por motivos conhecidos. O ministro do Esporte, Orlando Silva, a quem caberia a tarefa, desfez-se da autoridade moral para emitir compromissos publicamente confiáveis do governo. Primeiro, pelo envolvimento do ministério, por seu intermédio, na falcatrua gigantesca que foi, e para muitos continua produzindo efeitos onerosos, o contraste entre o plano do Pan apresentado ao país e, como resultado, o rombo financeiro, os indícios de corrupção e as ruínas abandonadas.
Além disso, Orlando Silva foi um dos dois asseguradores de que não haveria uso de dinheiro federal nas obras, propriamente, para disputa da Copa. E aí está uma das questões carentes de informação aos cidadãos que enchem, à revelia, os frouxos cofres públicos.
O compromisso de negar dinheiro federal foi, antes, de Lula. Da sua Presidência e do seu governo, portanto. O compromisso está abandonado no governo Dilma, mas a ninguém foi concedida a mínima explicação sobre o motivo de rompê-lo. É uma explicação devida a quem paga impostos.
Agora mesmo aprovada pelos vereadores paulistanos, sob empurrão do prefeito Gilberto Kassab, a doação de R$ 420 milhões à obra da empreiteira Odebrecht para o estádio do Corinthians será acompanhada de dinheiro federal. Pelo facilitário do BNDES, cuja finalidade legal é fomentar o desenvolvimento econômico e social. Ou seja, emprego, produção, inovação tecnológica e seus resultados sociais.
É direito geral saber a quanto irá, afinal, o envolvimento do BNDES, com seus juros e prazos privilegiados, na construção do estádio e no previsto financiamento para obras urbanísticas da prefeitura paulistana, no entanto doadora de perto de meio bilhão.
Assim como é direito geral saber, e do governo é dever informar, os envolvimentos do BNDES e outros também financeiros nas várias participações antes negadas, e agora efetivadas ou a caminho de sê-lo, para realização da Copa. O gasto sob esse pretexto é, em várias cidades, de dinheiro que vale vidas. Eis, nesse sentido, o exemplo de Manaus: uma das seis capitais com mais indecente índice de desenvolvimento humano, constrói um estádio com atenção aos requisitos europeus da Fifa, para ter jogo da Copa. Muita gente, sem socorro hospitalar, sem remédio e alimentação mínima, não chegará a vê-lo em 2014.
Diante disso, dar informação aos cidadãos não é muito. E é dever.
IDIOTICE
Se insultou Dilma Rousseff, o governo todo e os jornalistas, como entende a interpretação generalizada, em sentido mais claro e menos visto, foi a Fernando Henrique Cardoso que Nelson Jobim mais atingiu, afinal de contas era o homenageado.
Disse ele: "Nós precisamos ter presente, Fernando, que no seu tempo os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia". Ou seja, os que chegaram antes diferençavam-se dos atuais apenas por serem vagarosas e quietos, mas "no seu tempo" [de Fernando Henrique e do então ministro Jobim] eram igualmente "os idiotas".
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