A Bolsa Ditadura não chegou ao Araguaia
ELIO GASPARI
O GLOBO - 31/07/11
Em abril do ano que vem completam-se 40 anos do início das operações do Exército contra os militantes do PCdoB que se internaram nas matas do Araguaia com o intuito de iniciar uma guerrilha contra a ditadura. Será a triste lembrança de um massacre onde morreram cerca de 60 pessoas, na maioria jovens estudantes. Poucos pereceram em combate. Quase todos foram executados, muitos deles depois de terem se rendido à tropa do Exército. Foram execuções frias, praticadas mesmo depois de alguns presos serem usados até para pequenos serviços. Ordens de Brasília.
Foi uma guerrilha que começou com a fuga do chefe político, João Amazonas, que se foi embora em abril de 1972 para não mais voltar, e terminou com a fuga do chefe militar, Angelo Arroyo, que abandonou a área em janeiro de 1974.
Quarenta anos depois, a tragédia do Araguaia sobrevive como amostra da capacidade do Estado brasileiro de proteger o andar de cima, mostrando-se incapaz de olhar para o de baixo.
Os comandantes militares encobriram os crimes praticados por ordem dos chefes da ocasião. Os poucos sobreviventes do PCdoB e algo como 50 famílias de militantes assassinados foram indenizados.
Até hoje, 44 pobres camponeses que viviam na região esperam algum tipo de ressarcimento. Eles não queriam instalar uma república comunista moldada no modelo albanês. Quando muito, ajudaram os “homens da mata”. Tiveram as roças e criações destruídas. Pelo menos um pequeno vilarejo foi incendiado. Toda a população masculina de outro foi presa. Cavavam-se enormes buracos no chão, onde colocaram-se centenas de pais de família, nus. Era uma gente pobre que foi lançada na humilhação e na miséria. Para eles, não houve “Bolsa Ditadura”, como a que Lula e Fernando Henrique Cardoso recebem. Em 2010 ela valia R$ 4,2 mil mensais para Nosso Guia e uns R$ 8 mil para FH.
Quarenta anos depois, restam poucos camponeses vivos. O governo reconheceu o direito dos 44 sobreviventes, mas uma liminar da Justiça suspendeu o pagamento.
Periodicamente, hierarcas visitam o Araguaia, fazem discursos, exaltam os mortos e, aos vivos que restam, dão apenas promessas. Na semana passada, a ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, repetiu esse roteiro. A justificativa tem a idade do Brasil: “O que se pode fazer?” Em tese, pouco, porque a Justiça que barrou a indenização dos miseráveis é a mesma que confirmou créditos de R$ 2,5 bilhões para um plantel de beneficiados em que reluzem indenizações milionárias de aproveitadores endinheirados.
Antes que o último camponês do Araguaia morra sem receber um tostão, aqui vão quatro sugestões de providências capazes de atenuar o problema:
1) Lula e Fernando Henrique Cardoso doam à Viúva seus cheques do Bolsa Ditadura, ou separam 10% do que arrecadam com palestras e passam o dinheiro para os 44 camponeses do Araguaia. Por baixo, podem comparecer com R$ 12 mil mensais.
2) Cada um dos cinco mil beneficiados pelo Bolsa Ditadura doa R$ 10 mensais. Arrecadam-se R$ 50 mil.
3) O PT e o PCdoB doam 5% dos R$ 30 milhões que recebem do Fundo Partidário (dinheiro da Viúva) para os 44 do Araguaia. Nesse caso, cada um deles poderá receber R$ 1 mil mensais durante três anos.
4) Com a mesma malandragem que o governo pratica para beneficiar sonegadores de impostos, enfia numa medida provisória um contrabando que cria um fundo de R$ 10 milhões para que os juros da Bolsa Copom remunerem com R$ 1,2 milhão anuais os camponeses. Isso dá R$ 2.300 por mês para cada um deles.
Cardozo e Daiello disputam o troféu Steve Jobs
Oministro da Justiça, doutor José Eduardo Cardozo, e o diretor da Polícia Federal, Leandro Daiello, disputam com os consulados americanos no Brasil o troféu Steve Jobs para casos de inépcia.
O cidadão brasileiro que solicita um passaporte à Polícia Federal é submetido a esperas de até 90 dias. Esse é a marca dos consulados americanos para decidir a concessão de vistos a brasileiros. (Em São Paulo a espera é de 112 dias.)
Nos dois casos, os burocratas justificam as filas dizendo que a demanda é muito grande. Os americanos não têm obrigação de dar vistos a brasileiros, pois eles não lhes pagam os salários. Cardozo e Aiello, contudo, estão na folha da Viúva.
Poderiam aprender com Steve Jobs a diferença entre um executivo e um zelador. Nas suas palavras: “Se eu reclamo que não recolheram o lixo da minha sala, e o zelador diz que trocaram a chave da porta, ele está certo. Para um zelador, basta ter uma explicação. A enunciação do motivo que gerou o problema, vinda de um executivo, é inaceitável.”
O doutor Cardozo fez uma rápida viagem a Paris em maio. Se fosse um simples cidadão, estaria na fila da Federal, mas a ruína só vigora para o andar de baixo. O repórter Ranier Bragon informa que no primeiro semestre deste ano o Itamaraty expediu 89 superpassaportes. Esse número superou a média anual dos mimos distribuídos desde 2006.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e está convencido de que o ministro José Antônio Tóffoli foi à ilha de Capri movido pela admiração que tem pelo escritor russo Máximo Gorki, que viveu numa casa do pedaço, apelidada de “Vila Vermelha”, e pelas boas lembranças que Lenin guardou do lugar.
O ministro recusou-se a explicar quem pagou a estadia, mas um advogado de suas relações confirmou que patrocinou as diárias dos amigos que convidou para seu casamento.
Tóffoli diz que “não tem mais nada a acrescentar”. Por idiota, Eremildo entendeu que o ministro não quer discutir se deixou gorjetas para a criadagem.
Farsa, ou farsas
O comissariado petista busca uma estratégia para que as palavras “faxina” e “mensalão” possam conviver ao longo dos próximos meses, enquanto se aproxima o julgamento da quadrilha de 38 réus no Supremo Tribunal Federal.
Será impossível sustentar que uma tenha sido “farsa” (nas palavras de Lula) sem que a outra também o seja.
Tucanos
O Instituto Teotonio Vilela, do PSDB, pretende organizar um grande seminário para reorganizar sua agenda. Ainda não se decidiu a sede da reunião.
Uma corrente defende que o encontro se realize em São Paulo, a Faixa de Gaza do tucanato.
Mistério
Dias antes de sofrer uma tentativa de assalto em São Paulo, o vice-presidente Michel Temer havia se queixado do tamanho do seu dispositivo de segurança.
A arma do assaltante era de brinquedo. Numa versão, fugiu. Noutra, foi mandado embora. De qualquer forma, não fizeram o necessário Boletim de Ocorrência.
2 comentários:
Bem...por que vc quer que a critica que a midia fez a Toffoli prossiga?
UMA (OUTRA) DISCUSSÃO INADIÁVEL
CONAMAs REGIONAIS - ENTENDA A PROPOSTA
É inegável que o Conselho Nacional do Meio Ambiente – criado há mais de três décadas - precisa de uma reformulação voltada a sua adequação a atual realidade ambiental do Brasil.
Hoje, com mais de 100 conselheiros, pode ser comparado (por força de expressão) a um “Maracanã Ambiental” que lotado dificulta muita as vezes o processo das deliberações.
Por exemplo, muitas das decisões são tomadas segundo uma visão centralizada – a partir dos olhos de Brasília – mas que poderiam ser melhor deliberadas se o fossem diretamente nas regiões (Biomas) onde os problemas ocorrem e, sobretudo, pelas pessoas / entidades que (efetivamente) vivem o problema. Ou seja, por exemplo, conselheiros das Regiões Sul e Sudeste do Brasil deliberando sobre assuntos ligadas a Caatinga.
Deste modo, é inadiável que se promova uma AMPLIAÇÃO das atividades do CONAMA, ou seja, um processo de REESTRUTURAÇÃO que possa assegurar mais eficácia ao CONAMA, sem retirar dele a importância que tem no cenário ambiental nacional.
A proposta é a da criação dos CONAMAS REGIONAIS POR BIOMAS onde os temas específicos de cada Bioma
possam ser levados a discussão nas regiões onde ocorrem, envolvendo quem conhece a problemática regional.
Um Bioma é um conjunto de tipos de vegetação que abrange grande áreas contínuas, em escala regional. Que apresenta flora e fauna similares, definida pelas condições físicas predominantes nas regiões. Esses aspectos climáticos, geográficos e litológicos (das rochas), por exemplo, fazem com que uma Bioma seja dotado de uma diversidade biológica singular e própria. No Brasil, por ordem decrescente de tamanho, os Biomas existentes são: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e o Pantanal
Ao CONAMA caberia manter as discussões e deliberações dos macro temas ambientais (que envolvem dois ou mais Biomas), enquanto aos CONAMAS REGIONAIS caberia, para cada Bioma, o debate e deliberação de temas ligados a tais regiões específicas.
A criação dos CONAMAS REGIONAIS levaria a seus plenários entidades hoje fora do CONAMA (produto da superlotação) que estariam ligadas a região específica para a qual se pretende uma intervenção ambiental. Um espaço significativo para entidades ambientalistas locais e regionais que dariam uma grande dinamização dos trabalhos.
Não é novidade a criação de Conselhos Regionais no Brasil; o Estado do Espírito Santo já descentralizou seu Conselho Estadual de Meio Ambiente há mais de 10 anos e, alguns anos depois, de forma própria, o Estado de Mina Gerais evoluiu no memso sentido.
Portanto, a proposta de criação dos CONAMAS REGIONAIS não é uma novidade a ser testada; é uma experiência muito bem vivenciada que poderá ser adequada ao CONAMA.
Roosevelt S. Fernandes, M. Sc.
Conselheiro do Conselho Estadual de Meio Ambiente do Estado do Espírito Santo / CONSEMA – ES
Coordenador do Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental e Social / NEPAS
roosevelt@ebrnet.com.br
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