Caminho da roça
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 28/07/11
Há coisas que a gente pensa, mas não diz. Há coisas que todo mundo sabe e não precisam – ou não devem – ser ditas. Ao agredir essas duas regras básicas de elegância social e convivência pacífica, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, deixa no ar uma interrogação: aonde ele quer chegar?
Em entrevista a Fernando Rodrigues na estreia do programa “Poder e Política” da Folha, Folha.com e UOL, Jobim justificou que “não costuma fazer dissimulações” e disse, em bom e alto som, que votou no tucano José Serra em 2010.
Acrescentou que, com Serra, “seria a mesma coisa” na gerência da crise dos Transportes, quando Dilma Rousseff botou 18 para correr, incluindo os que optaram pela versão da demissão “a pedido”.
Tanto quanto não há e não havia dúvida sobre o candidato de Jobim na eleição Serra versus Dilma, não há dúvida de que ele está insatisfeito. Primeiro, criticou o governo até em casamento.
Depois, usou um discurso em homenagem a Fernando Henrique para falar nos “idiotas” que ficam e lembrar que o ex-presidente não gritava e não humilhava assessores. Nada sutil. Chamado ao Planalto, disse a Dilma que era tudo intriga da imprensa. Aliás, que os “idiotas” a que se referira eram os jornalistas que criticavam FHC.
Todos, e, sobretudo, Dilma, fingiram que acreditaram, mas isso certamente ficou entalado. Agora mais essa. Novamente chamado, o que Jobim diria? Esse excesso de liberdade para falar verdades aí tem uma origem certa e um objetivo deduzido. A origem é que Jobim só está ministro porque Lula convidou e Dilma engoliu.
O objetivo é que, sem ter mais o que fazer, Jobim está tomando o caminho da roça.
O mais curioso é que, enquanto o PT tomou as dores de Dilma, o PMDB se dividiu entre os que não viram nada demais e os que até defenderam o correligionário. Assim: o PMDB é leal a Dilma, mas não pega em armas por ela.
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