Cheia de dedos
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/06/11
RIO DE JANEIRO - Escute esta: "O governo Obama é uma ameaça tão grande para os EUA quanto a que a Alemanha nazista e a União Soviética representaram no passado". E esta: "Obama não vai descansar enquanto não transformar os EUA num país ateu, dominado pelos radicais do islamismo". E mais esta: "É o presidente mais extremista da história dos EUA. Sua política externa é baseada no anticolonialismo queniano".Sobre os membros do Partido Democrata: "São traidores doentios e patéticos. O que eles pregam é o espírito da tirania soviética". Mais: "São responsáveis pela maior corrupção política já vista na América moderna". Como se não bastasse, os democratas, sempre segundo essa voz irada, "pregam a eutanásia".
O autor dessas frases, meio desconexas, é o escritor, professor, ex-deputado pelo Estado da Geórgia em várias legislaturas e atualmente analista político e candidato a candidato pelo Partido Republicano à sucessão de Barack Obama à Presidência dos EUA em 2012, Newt Gingrich, 67. Mas não pense que Gingrich teve essa hidrofobia despertada por Obama -ele já era assim desde jovem. Nasceu salivando.
No Brasil, os veteranos dos anos 50 e 60 se lembram do tiroteio verbal quase diário entre Carlos Lacerda e a esquerda, ou os ataques que presidentes como Getúlio e Juscelino costumavam sofrer. Uma das minhas recordações mais vivas de infância é a lateral de uma banca de jornais no Catete, coberta por dezenas de exemplares da revista "Maquis", todas com um sorridente Juscelino em close na capa e a manchete: "O maior ladrão de 1958".
Oposição para ter graça é assim: exagerada, grosseira, radical, fanática, suja, até desbocada. Um misto de teatro e mafuá. Mas, no Brasil de Lula e, hoje, Dilma, a oposição é tão cheia de dedos, tíbia e desdentada que os piores embaraços à situação partem, quem diria, de dentro da própria situação.
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