Para um feliz Dia dos Namorados
GUSTAVO CERBASI
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/11
Seja menos consumidor e mais romântico; como será um domingo, tire o dia para simbolizar seu amor
DAQUI A exatamente uma semana, muitos relacionamentos de namorados, casados e afins estarão fortalecidos pelo romantismo do Dia dos Namorados, que cairá no próximo domingo.
Pelo mesmo motivo, muitos orçamentos estarão arruinados.
Por mais que saibamos com antecedência da data, é hábito comum deixar para pensar na celebração em cima da hora.
Na pressa, paga-se mais caro, pois, além do presente, estamos adquirindo também a conveniência da pronta entrega.
O roteiro é conhecido. No próximo sábado, muitos pombinhos se darão conta da necessidade de celebrar, e correrão atrás de algo romântico, fortemente simbólico e, obviamente, com "cara" de Dia dos Namorados.
Restaurantes serão uma boa sugestão, mas, além de estarem lotados (como em todos os domingos), ainda terão um sobrepreço pelos tradicionais pacotes especiais de datas festivas.
Flores serão outra boa pedida.
Quer algo mais romântico do que um buquê de rosas colombianas -lindo, cheiroso e custando três vezes o que custaria em qualquer outra data? E o que dizer de uma caixa de bombons em forma de coração?
Não é caro gastar algumas dezenas de reais em um presente assim, certo? Faça as contas do preço que você estará pagando pelo quilo do chocolate e você perceberá o tamanho da armadilha.
É curioso notar como que, para muitas pessoas, a data deixou de ser a oportunidade de demonstrar o amor e passou a ser uma obrigação de demonstrar sua capacidade de pagamento.
A arapuca está armada para prender a caça. O caçador, ao contrário do que se pensa, não é o comerciante, mas sim a falta de planejamento dos consumidores.
Pagamos caro porque não pensamos em um presente criativo com antecedência. Não culpo os lojistas por praticarem preços maiores; afinal, esses preços são necessários.
Para atender à insana correria dos consumidores às compras de última hora, o comércio é obrigado a adotar uma verdadeira operação de guerra.
Entregas urgentes, aluguel de espaço extra para estoques, turnos extras de vendedores e perdas decorrentes dessa correria saem caro -e o consumidor paga por isso.
Deve-se considerar também que o mau hábito de comprar convenientemente e pagando caro em poucas datas arruína a vida financeira dos consumidores, que, endividados, não conseguem manter hábitos regulares de compras ao longo do ano.
Como os comerciantes só vendem nessas raras datas, veem-se obrigados a embutir todo o lucro do ano nas vendas desses poucos dias. É questão de sobrevivência!
Reforço a sugestão que já fiz em outras datas festivas: neste Dia dos Namorados, mude o roteiro.
Seja menos consumidor e mais romântico. Aproveite que a data cai em um domingo, e tire o dia para simbolizar seu amor. Café da manhã na cama, rever álbuns da história do casal, fazer um álbum virtual do último ano, preparar um almoço saudável a dois, em casa, e depois mergulhar em uma sessão de filme romântico sob o edredom não custam caro e significam algo bem claro: tiramos o dia para dedicarmos um ao outro.
Quer um presente para guardar? Tirem fotos do que fizeram no dia, e façam disso uma tradição.
É apenas uma sugestão, algo que costumo fazer. Invente o seu roteiro, mas procure fazer do Dia dos Namorados uma celebração do relacionamento, não de suas dívidas.
Fugir das arapucas comerciais é um presente a mais que o casal se dá.
Creio que os comerciantes não devem admirar muito minha sugestão, mas até eles saem ganhando com celebrações verdadeiramente simbólicas.
Elas reforçam relacionamentos, intensificam a paixão.
Com os casais gastando menos, sobra orçamento para presentear com flores, com chocolates, com jantares e afins mais vezes por ano.
Qual lojista não gostaria de ter clientes fiéis no lugar da bagunça das compras sazonais?
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