O Delúbio da banca
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/06/11
Do blá-blá-blá de Antonio Palocci, deve-se reter a passagem em que ele afirma que Dilma Rousseff não sabia dos seus negócios: "Não entrei em detalhes sobre nomes dos clientes ou serviços prestados para cada um", disse à Folha. Nem os "clientes" nem os "serviços". No "JN", da Rede Globo, Palocci fez questão de delimitar o escândalo: "É uma coisa dirigida a mim. Não há crise no governo".Nos dois trechos, o ministro não estava preocupado em fazer sua defesa -de resto pífia. Palocci buscava circunscrever a crise e fazer um cordão sanitário capaz de isolar Dilma de sua figura contaminada.
A preocupação profilática do ministro-sanitarista tem razão de ser. Palocci foi o coordenador da campanha presidencial de Dilma. Em 2010, sua empresa faturou R$ 20 milhões, metade deles nos últimos dois meses, depois que Dilma estava eleita e ele já era cotado para o cargo mais cobiçado do governo.
A investigação sobre a origem e as motivações dessa dinheirama provocaria, muito provavelmente, um estrago muito maior do que o disponível até agora. Que tipo de contratos -e com quem- o coordenador da campanha presidencial vitoriosa fez em 2010?
Nesse sentido, a entrevista evasiva, lacônica e cínica de Palocci se justifica plenamente como estratégia de defesa. Entre a opinião pública e os clientes, optou pelos últimos. Entre afundar sozinho (é o que ele agora espera) e comprometer o governo e a presidente, a primeira opção parece menos ruim.
Se abrisse o jogo, Palocci sabe que estaria espalhando dinamite pelo Planalto. Cairia do mesmo jeito que deve cair, mas provocaria danos muito maiores. Embora seja mais homem de mercado que de partido, Palocci lembra e repete Delúbio, aquele que tombou sem piar. Palocci é o Delúbio da banca. Delúbio é o Palocci do bingo.
Há, pois, ciência nessa queda muito provável. Se tudo der certo, Dilma ainda terá uma dívida de gratidão com o ministro milionário.
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