Dilma 1ª
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/11
A "rainha Dilma" foi acometida por uma leve pneumonia. É evidente que a notícia causa apreensão
DESEMBARQUEI NO aeroporto Internacional de Guarulhos latindo e abanando o rabo. Au, au, au! Nada como uma semaninha no exterior para que a gente se dê conta da vida de cachorro que leva em São Paulo.
Está certo que poucas cidades se comparam a Londres, de onde cheguei. Mas o paulistano anda às voltas com um novo e tenebroso paradigma. Tome o meu exemplo. Tem dia que a cidade me pesa nos ombros de tal forma que chego a sentir inveja do antigo domicílio de Henri Charrière, também conhecido como Papillon, o famoso fugitivo francês que cumpriu pena em uma localidade da Guiana Francesa denominada "a ilha do Diabo".
Juro que não falo do alto do púlpito do Hyde Park Corner, de onde esbraveja aquele pessoal que viaja pela primeira vez ao exterior e volta achando que lá tudo é melhor do que cá, da Harrod's, mais deslumbrante do que o shopping Iguatemi, ao Hyde Park, bem mais imponente do que o parque do Ibirapuera.
Nem idade tenho mais para esse tipo de recalque e, por sinal, no Kew Gardens de Londres, Burle Marx, paisagista Ibirapuera, é reverenciado em pé de igualdade com qualquer Charles Bridgeman, sujeito que finalizou o primeiro projeto do Hyde Park, em 1733.
Não deixa de ser saudável voltar de viagem impregnado de comparações. Nós nunca viajamos tanto de avião e quanto mais andarmos de lá para cá, menos passíveis seremos de sermos tratados como cães sem raça definida. No fim de semana prolongado do casamento real, brasileiros podiam ser encontrados dependurados nos lustres de salões de chá, de festas, de halls de hotéis, de grandes magazines e de casas noturnas de todos os bairros de Londres.
Deu-me a impressão de que os londrinos acorriam em massa aos supermercados para comprar spray antiturista brasuca, somos quase uma praga por lá atualmente. Engraçado a turma ir a Londres para ver a rainha e não se tocar de que estamos criando nossa própria "realeza" aqui mesmo na figura, por ora impecável, de uma presidente que se impôs em pouquíssimo tempo e conquistou até quem queria cortar-lhe a cabeça.
Nossa "rainha Dilma" (o aceno, a palete de cores dos vestidos e as bolsas são iguais às de Elizabeth 2ª) foi acometida por uma leve pneumonia. Evidente que a notícia causa apreensão. A esta altura, já aprendemos a gostar de Dilma para bem além do respeito que é devido ao cargo que ela ocupa.
E a perceber na figura da presidente alguém que a cada dia se faz mais imprescindível. Pode ser construção de imagem (a rainha também não é?), temperamento, competência, senso de dever ou o caso típico da pessoa certa na hora certa, mas a verdade é que Dilma resgatou as melhores qualidades do cargo e, assim como a rainha britânica, fornece tranquilidade à instituição.
Só se fôssemos loucos ou um país inteiro composto por cidadãos de sobrenome Temer não veríamos problema no mal-estar que acometeu a nossa presidente no último fim de semana.
Por enquanto está tudo bem e nós não temos motivo para perder a fleugma. Mesmo que as próximas notícias não sejam boas, sabemos que linfoma é doença tratável e curável até quando reincide.
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