Dilma na China, Obama no Brasil
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/04/11
VAMOS SUPOR que os chineses não estejam contando mentiras à comitiva de Dilma Rousseff. Vamos considerar que uma ditadura com economia sob controle ou diretriz estatal, a China, tem muito mais condições de oferecer acordos e parcerias comerciais que o governo de uma democracia com economia aberta, os EUA. Vamos relevar, por ora, que industriais e comerciantes da China subfaturam descaradamente o preço de seus produtos a fim de roubar mercado, aqui e alhures.
Isto posto, os salamaleques da diplomacia comercial chinesa são muito mais impressionantes que os da diplomacia americana, que, a bem da verdade, não fez grande esforço para conquistar simpatias por aqui na visita de Barack Obama.
Brasil e Estados Unidos assinaram apenas alguns daqueles acordos mambembes e "protocolos de cooperação" de que ninguém lembra um dia depois de encerradas as visitas de autoridades. Obama fez uns discursos fraquinhos, simpáticos e vazios, de resto meio jecas e com clichês do tempo em que Walt Disney desenhou o Zé Carioca.
Os chineses prometeram ao menor remendar o vexame que deram ao passar uma rasteira na Embraer, que gastou dinheiro para se instalar na China e ficou a ver navios, sendo na prática proibida de vender e de produzir. A Embraer, que se associou, como é obrigatório, a uma companhia chinesa, não podia vender seus melhores aviões por lá.
Os chineses, parece, vão abrir o mercado de carne suína para os produtores brasileiros, embora seja preciso ver quanta produção e produtores vão liberar de fato assim que a visita de Dilma acabar.
Algumas indústrias chinesas anunciaram investimentos no Brasil, mas isso é apenas "oportunidade de mídia". Produtores de equipamentos de telecomunicações como a ZTE e a Huawei aproveitaram a presença de Dilma para fazer uma média, pois o dinheiro novo que apenas anunciaram é investimento "normal" para manter o crescimento do negócio deles compatível com o aumento do mercado brasileiro.
O investimento novo mais relevante seria o da Foxconn, que aumentaria brutalmente a quantidade e a qualidade da sua produção por aqui. Note-se, antes de mais nada, que a origem da empresa é Taiwan, embora o grosso da produção seja feito mesmo na China. Causou mais sensação a possibilidade de a empresa montar o iPad no Brasil.
Mas a Foxconn é uma empresa gigante, fornecedora de insumos para computadores e eletrônicos, abastecendo da Intel à Apple, e muita gente grande mais, fabricando placas-mãe de computadores (o "chassis" responsável pela comunicação dos demais componentes) a placas de vídeo, displays digitais etc.
Se vier, é boa coisa. O seu tamanho, exigências de fornecedores locais, além de um centro de pesquisa prometido para o polo tecnológico de Campinas, fariam diferença para a indústria eletrônica no Brasil.
O Banco Industrial e Comercial da China, em certo aspecto o maior do mundo, pretende abrir uma filialzinha aqui. Pode parecer pouco. Ou que os chineses vêm aqui apenas "levar mais um mercado". Mas a presença de um banco desse tamanho pode facilitar investimentos.
Enfim, ao menos em termos de promessa e salamaleque diplomático para o Brasil, os chineses bateram os americanos de longe.
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