segunda-feira, abril 11, 2011

MELCHIADES FILHO - Vale compras


Vale compras
MELCHIADES FILHO

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/04/11

BRASÍLIA - Dilma carrega a fama de estatista, mas completa cem dias na Presidência empenhada em dar ao governo a agilidade da iniciativa privada e em escapar, como puder, dos incômodos do direito público.
Há no Planalto convicção de que o atual regramento das concorrências reduz o ritmo dos investimentos e engessa a administração de contratos e obras. Sem falar na exposição ao exame dos órgãos fiscalizadores e às críticas da imprensa.
Nesse sentido, interessa uma Vale que colabore com os planos nacionais de infraestrutura e aja como instrumento da política industrial.
A empresa hoje controla, por exemplo, quase metade da malha ferroviária do país e investe sozinha em portos o mesmo que o PAC todo.
Imagine que um dia Dilma deseje mudar o marco regulatório desses dois setores -e esse dia chegou. Imagine então como a Vale, que não precisa licitar as compras, poderá ser útil. Um tapinha não dói.
Mais do que a ideia de transformar a empresa em um bunker petista (só os muito paranoicos creem que 120 mil funcionários aceitariam docilmente ser conduzidos em tal direção), é essa "sintonia logística" o motivo da cruzada governamental para defenestrar Roger Agnelli.
A linha de ação já tinha aparecido com o pré-sal, na definição de que uma nova estatal irá cuidar só de tarefas burocráticas, de gestão. Por que abrir mão da capacidade elástica de compras da Petrobras?
E deverá reaparecer nesta semana, com o envio ao Congresso da proposta do Orçamento de 2012.
O Planalto cogita anexar um projeto que diminui as exigências para as obras relacionadas à Copa-2014 e à Olimpíada-2016. O "relacionadas", claro, ficará por conta do governo. Aeroportos, energia, transportes, saneamento, segurança, tudo será executado mais livremente.
Elaborada em 1993 como resposta aos desmandos do governo Collor, a Lei das Licitações pode até merecer revisão (o Brasil de fato mudou), mas não a aposentadoria.

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