Páginas policiais
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/04/11
SÃO PAULO - A capital paulista registrou 220 homicídios no primeiro trimestre deste ano, contra 376 no mesmo período do ano passado. A queda é de 41%. Em relação a 2009 (quando houve 306 mortes), a diminuição é de 28%. Há razões para comemorar? Claro que sim. Pela primeira vez, São Paulo inicia o ano com taxa de homicídios abaixo de 10 pessoas por 100 mil habitantes, um marco histórico.
Na comparação com 1999, quando se atingiu o pico de 1.359 homicídios, a queda neste ano é de 83%. Isso significa que estamos mais perto da civilização. Mas não quer dizer que a polícia nativa não seja truculenta. Sabemos que é. Nem que não discrimina os pobres. Ainda discrimina e barbariza demais. Mas a coisa melhorou.
Apesar dos números positivos, o clima na polícia, especificamente na Civil, não anda nada bom. O jornal "Valor" publicou ontem reportagem sobre as insatisfações na corporação, a começar pelo piso salarial dos delegados, de R$ 5,8 mil, dos mais baixos do país. É fato que apenas 5% dos delegados recebem o piso. O salário médio dos que estão na ativa é de R$ 8,6 mil.
Mas não é só isso. Como a Folha mostrou também ontem, o número de demissões na Polícia Civil pulou de 64 em 2009 para 219 em 2010.
O aumento -mais que o triplo- está ligado à política de combate à corrupção na corporação, bandeira do secretário Ferreira Pinto. Apenas no Detran, mais de 160 policiais acusados de fraudes com o emplacamento de carros foram afastados.
Não fica muito claro, na ameaça de greve que vem ganhando corpo entre os órgãos representativos dos policiais civis, até onde vai a reivindicação de fundo trabalhista, por melhores salários, e onde começam os protestos velados contra a moralização da polícia. Os policiais querem ganhar mais ou querem desestabilizar o secretário durão?
Seria bom separar com clareza as duas coisas. Para que não haja suspeitas de que a demanda sindical está a serviço de uma quadrilha.
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