Populismo avança
CESAR MAIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/04/11
O segundo turno das eleições peruanas mostra que o populismo latino-americano continua forte e avança.
De um lado, o ex-militar Ollanta Humala, sucessor de seu pai no etnocacerismo, [movimento político] que, em nome do nacionalismo, reúne as raízes incas e a memória do general Cáceres, da Guerra do Pacífico (1879-83), em que o Chile avançou sobre parte da Bolívia e do Peru.
Abanado por Hugo Chávez, Humala surpreendeu na eleição de 2006, chegando ao segundo turno com porcentagem igual à atual. Perdeu por seis pontos. Agora, clonando a campanha de Lula em 2002, ele vai ao segundo turno representando o populismo nacionalista de esquerda.
Vai disputar com Keiko Fujimori. Apesar de seus 35 anos, ela incorpora a experiência de ter sido, aos 19 anos, a primeira-dama do Peru [durante o governo de seu pai, Alberto Fujimori]. Coordenou alguns programas sociais.
Seu ponto fulcral é a libertação do pai (que está preso) e a continuidade de seu governo.
Mostrou especial talento de comunicação e foi além do patamar dos 20% do fujimorismo. Keiko -que foi o destaque entre os candidatos- representa o populismo de direita.
Já a pré-campanha na Argentina, com eleição em outubro, tem como triste referência o marasmo da oposição, que pode possibilitar a vitória de Cristina Kirchner no primeiro turno. Ela segue à risca o populismo de esquerda de Néstor Kirchner, governando por decreto e financiando o gasto público com inflação.
Em setembro, virão as eleições na Guatemala, país estressado pela passagem de cocaína, pelo tráfico legal de bebês e ilegal de migrantes, tudo para os EUA. Enfrenta uma violência crescente das gangues, que da extorsão se aliam ao tráfico de drogas. O presidente Álvaro Colom Caballeros deu um jeito na proibição constitucional de reeleição, divorciando-se da mulher (que será a sua candidata).
O ano termina com a eleição na Nicarágua, onde Daniel Ortega conseguiu que a Corte Constitucional (que ele controla com a direita corrupta) desconsiderasse a proibição à reeleição. Sua aliança desde 2007 é com o ex-presidente Arnoldo Alemán, em prisão domiciliar e ordem internacional de arresto. Ortega alterou a legislação eleitoral para poder se eleger com menos de 40%.
Se colorirmos o mapa da Guatemala à Argentina, quase teremos uma continuidade espacial. Mesmo no Panamá, com seu presidente eleito um ano atrás e maior empresário do país, o populismo avança.
É ele mesmo que se diz populista de direita e distribui bolsas de todos os tipos.
O corredor populista na América Latina vai da Guatemala a El Salvador, Nicarágua, Panamá, Venezuela, Equador, Peru (agora), Bolívia, Paraguai e... Brasil, pelo menos até 2010.
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