As safras correspondem
CELSO MING
O ESTADO DE SÃO PAULO - 07/04/11
As previsões de que o excesso de chuvas do primeiro trimestre derrubaria as colheitas deste ano não se confirmaram. A alta umidade em algumas regiões causou perdas e prejudicou a qualidade do produto, mas não a ponto de provocar derrubadas significativas de safras.
Ontem, tanto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dois organismos oficiais que fazem levantamentos desse tipo, anunciaram recorde de produção de grãos neste ano-safra. Nas estimativas anteriores, tanto a Conab como o IBGE haviam acenado com quebra de produção.
Os números divergem um pouco, o que é normal, porque exigem levantamentos em todo o Brasil e projeções levam em conta variáveis nem sempre coincidentes. Mas ambos apontam para as mesmas direção e tendência.
A Conab prevê uma produção de 157,4 milhões de toneladas de grãos, um aumento de 5,5% sobre a produção anterior. E o IBGE, 155,6 milhões de toneladas, crescimento de 4,0%. A safra de grãos de 2009/2010 atingiu 149,2 milhões de toneladas. (Veja o gráfico)
Uma informação adicional positiva que também tem de ser levada em conta é a de que o crescimento da área plantada no Brasil foi menor do que deverá ser o da produção. A Conab indica que será de 49,2 milhões de hectares (mais 3,9%) e o IBGE, de 48,1 milhões de hectares (mais 3,3%).
Isso parece indicar que, além de contar com bom índice pluviométrico, o produtor brasileiro utilizou mais tecnologia na produção em todos os níveis: escolha da semente, preparo e correção da terra e manejo do cultivo, com fertilizantes e defensivos.
Esse aumento da produção de grãos acontece num momento em que os preços têm um comportamento especialmente favorável para o agricultor. As commodities alimentícias apresentaram em 12 meses (até o final de março) uma alta de 43,6%.
É verdade que alguma perda o agricultor está tendo com a valorização do real diante do dólar, moeda em que são cotadas as commodities. Mas essas perdas estão sendo compensadas com um avanço maior dos preços em dólares.
Isso significa que a renda do agricultor já está aumentando e pode crescer mais do que o esperado. Efeito coligado deve aparecer na força do interior: mais consumo, mais encomenda à indústria e mais utilização de serviços de todo tipo.
Do ponto de vista macroeconômico, isso pode indicar que, embora toda a economia cresça mais devagar (avanço de 4,0% do PIB comparado com os 7,5% ocorridos em 2010), o aumento do consumo pode continuar bem mais alto. É uma indicação que o crescimento das importações, de 23,3% no primeiro trimestre (sobre o primeiro trimestre de 2010) e, mais do que isso, a forte escassez de mão de obra parecem confirmar.
E esse é um problema adicional para o Banco Central, que pretende conter o consumo. Até agora, o crescimento do crédito não se desacelerou aos níveis pretendidos e as vendas de bens de consumo duráveis, especialmente veículos, continua exuberante.
CONFIRA
Mais do mesmo
É provável que o mercado tenha ficado aliviado, pois esperava medidas mais duras no câmbio. Mas a decisão do governo limitou-se a estender para os financiamentos externos de mais de 360 dias a cobrança de IOF de 6%. Em vigor desde o dia 29, incidia apenas sobre a tomada desses empréstimos de até 360 dias.
Vá saber...
O ministro Guido Mantega insiste em dizer que todas as decisões destinadas a conter a entrada de moeda estrangeira produziram efeitos. É o tipo da coisa que não dá para medir. Por exemplo, provavelmente a forte entrada de dólares nos últimos dias (indesejada pelo governo) também foi provocada pelo temor de que o governo estendesse os 6% de IOF inclusive para prazos mais longos.
É pouco
Vai funcionar? Alguma coisa vai. Não leva jeito de ser suficiente, diante do objetivo pretendido. Funcionaria mais se os juros despencassem. Para isso, seria preciso conter com mais vigor as despesas públicas.
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