Só não esquecemos de beber
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/04/11
SEGURA, PEÃO! O homem está sentindo falta dos holofotes. Achei que o nosso amantíssimo ex-presidento (ué?) Lula ia precisar de mais tempo para se recuperar da superexposição dos últimos oito anos. Teria apostado um picolé de limão como ele ia dar um período de, no mínimo, um ano antes de aparecer matraqueando ao microfone novamente.
Ora, quem diz que ele consegue? Problema é que agora não pode mais recorrer a uma "supernanny" que lhe diga com firmeza: "Veja bem, senhor ex-presidente, talvez não seja uma boa ideia o senhor se oferecer para gravar mensagem de boas-vindas ao Adriano. Corintiano ou não, é prudente lembrar que as pessoas ainda guardam fresca na memória a imagem do jogador fazendo os símbolos de C, de Comando, e V, de Vermelho, com a mão".
Sei não, mas algo me diz que ainda vamos ver o ex-presidente inaugurando a bunda nova da Lucilia Diniz depois de um "extreme makeover" ou entregando diploma de conclusão de curso de agility para um dos cães da Vera Loyola.
Está certo que qualquer malabarismo é válido para evitar passar a tarde jogando tranca com a dona Marisa, mas vamos e venhamos, um estadista da importância de Lula reaparecer, depois de tanto tempo quieto, em vídeo para celebrar o Adriano é de uma falta de bom senso que desafia ao Gaddafi.
Do alto do seu dever cumprido, Lula tem liberdade de gravar mensagem para quem bem entender. E o Adriano que também fique à vontade para afirmar quantas vezes desejar que sua única doença é a família (foi inclusive aplaudido quando disse isso na apresentação ao clube, olha só quanta gente esclarecida havia por perto) e que "da outra" (doença, presumo) já se curou.
Respeitosamente, gostaria de perguntar: e o consumo abusivo de álcool, como é que fica? Quando vamos parar com a hipocrisia?
De uns tempos para cá, o país inteiro resolveu fingir que não existe mais problema com álcool. Esquecemos da lei seca, dos execráveis comerciais de cerveja e até demos para desacreditar nas formas mais efetivas de tratamento.
Em todo lugar, os Alcoólicos Anônimos são super-respeitados. Nos EUA, que estão a anos luz de nós na abordagem da doença, membros famosos de AA falam abertamente sobre a irmandade e são aplaudidos. Entre nós, a indústria de bebida, o lobby farmacêutico e a classe médica juntam forças para desacreditar 80 anos de bons serviços prestados. Que tal comparar os índices de sobriedade obtidos pelos médicos da Unifesp aos do AA?
Recentemente, o ator Charlie Sheen foi demitido por uso de drogas. Ele nega ter problemas, mas seus episódios são públicos e notórios. Será que Clinton e Bush lhe dariam tapinhas nas costas publicamente? Não nos faltará consciência e seriedade sobre um problema social gravíssimo?
Adriano não se crê doente, mas apresenta comportamento tipicamente errático. Deveria começar respondendo ao questionário do AA que está no Google. São 12 perguntas. Quatro ou mais respostas "sim" já dão indício de que o camarada deve abrir o olho. Exemplos: 1) Nos últimos 12 meses você faltou ao trabalho por causa da bebida? 2) Nos últimos 12 meses você brigou com a família por causa da bebida? 3) Nos últimos 12 meses você se envolveu com a polícia por causa da bebida? 4) Inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas? Já posso parar, não?
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