sábado, março 26, 2011

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Mil e uma inutilidades
FERNANDO DE BARROS E SILVA

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/03/11

SÃO PAULO - Lula estreou como palestrante remunerado há poucas semanas. Falou a funcionários de uma empresa de eletroeletrônicos e não teve nenhum pudor ao fazer propaganda dos seus artefatos.
O ex-presidente agora aparece como personagem oculto de uma propaganda de produtos de limpeza que está no ar. Muitos leitores já devem ter visto. Rodeada por uma parafernália de desinfentantes e congêneres, a atriz locutora diz à câmera ter recebido centenas de cartas, "como essa da dona Marisa, de São Bernardo, reclamando que depois que o marido largou o emprego fica o dia inteiro em casa enchendo o saco dela".
Vem então o conselho da apresentadora a dona Marisa: "Pede para Sua Excelência limpar a casa, as janelas, o banheiro, a louça, porque ele até podia ser o cara lá no serviço, mas em casa pode botar a barbinha de molho porque quem manda é a mulher, meu bem".
Não é a primeira vez que a publicidade apela à imagem de Lula de forma jocosa. Em 2009, numa peça destinada a vender papel higiênico, um sósia do então presidente dizia "nunca antes na história deste país o povo teve tanta maciez".
No caso em questão, não há dúvida de que Lula virou garoto-propaganda à revelia em função da sua popularidade. Mas o núcleo do enredo cômico da publicidade se constrói em torno do ostracismo do ex-presidente. Ele "fica o dia inteiro em casa enchendo o saco".
Trata-se, é óbvio, de uma peça de ficção, mas que não deixa de evocar uma situação real -quem manda na casa agora é a mulher; a Lula só resta limpar as janelas.
É incrível a rapidez com que os ex-presidentes envelhecem. É claro que Lula é o líder político mais querido do país. E será por um bom tempo. Mas também é evidente que sua figura já começa a ficar amarelada, como um retrato antigo na parede. Efêmera, fútil, pueril, a publicidade, sem perceber, transporta "o cara" do presente mundano para as páginas solenes da história.

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