Pão egípcio e ferro brasileiro
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/02/02
Correntes de consumo e de produção gigantescas alteram o clima econômico e político pelo planeta
O PÃO ESTÁ caro no Egito, e o comércio exterior do Brasil foi muito bem em janeiro. Como assim?
Sim, o preço de comida, combustíveis, minérios continuou a subir muito em janeiro. O Brasil exporta muita comida e minérios. O Egito importa metade do trigo e do milho que consome. Mesmo que não importasse, o preço de trigo e milho ainda subiria -talvez o subsídio da comida ficasse menos custoso, a depender do câmbio.
O preço médio das commodities subiu 6,5% em janeiro, segundo um índice popular na praça, o CRB. No ano passado, o CRB subiu uns 24%. Nesse índice, da Thomson Reuters, é ponderada a evolução dos preços de petróleo, gás, trigo, soja, milho, café, algodão, carnes, suco de laranja, ouro, prata e platina, de acordo com as respectivas cotações em Bolsas americanas.
O preço do cobre é recorde. Os de outros metais estão chegando perto dos recordes de 2008, assim como os dos grãos; em meados de 2008 houve a rodada anterior da grande inflação de commodities, quando a economia mundial ainda estava superaquecida, apesar do declínio já evidente no mundo rico.
Dado que o Brasil tem uma balança comercial de petróleo mais ou menos equilibrada, em geral as exportações brasileiras melhoram de preço quando o CRB sobe. Em lugares ainda mais pobres e selvagens que o Brasil, onde a despesa com comida leva parte ainda maior da renda dos cidadãos (quando a renda existe, aliás), a alta do CRB tende a ser uma desgraça. Há pobres e miseráveis passando ainda pior no sul da Ásia e na África quase toda.
No Brasil, o preço das commodities em alta provocou surpresas como um deficit comercial menor do que o esperado em 2010. E outra surpresa em janeiro, um mês tradicional e relativamente mais fraco do comércio exterior. Mesmo com dólar barato e a decorrente surra em alguns setores industriais, o comércio exterior teve superavit em janeiro, pequeno, mas superavit. Mais interessante, a corrente de comércio (exportações mais importações) cresceu 32% sobre janeiro de 2010. O valor das exportações cresceu 34,5%, mais que o das importações (que cresceu 28,7%).
A resistência da balança comercial, o deficit externo menor do que o esperado, a torrente de dinheiro que vem entrando para fusões, aquisições, investimentos "produtivos" e outros, tudo isso ajuda a derrubar um pouco mais o dólar, o suficiente para avariar vários setores industriais, que perdem mercado no exterior e para importados.
Note-se, porém, que, embora o preço de commodities não cause aqui desgraças tão agudas como em lugares mais sombrios do planeta, a inflação desses produtos também contamina os preços no Brasil. O que empurra juros para cima. O que atrai um tanto mais de dólares, o que valoriza o real. O que prejudica alguns setores industriais. Etc.
O resumo da ópera é que estamos todos enredados por correntes de produção e consumo gigantescas, que alteram o clima econômico e até político do planeta. A bonança das commodities tornou o ambiente mais confortável para o governo Lula; agora, bate um pouco na inflação aqui, embora ajude a sustentar o equilíbrio externo. No norte da África, a mesma corrente turbina o preço da comida, o que enfurece o povo, o que balança ditaduras.
Sim, o preço de comida, combustíveis, minérios continuou a subir muito em janeiro. O Brasil exporta muita comida e minérios. O Egito importa metade do trigo e do milho que consome. Mesmo que não importasse, o preço de trigo e milho ainda subiria -talvez o subsídio da comida ficasse menos custoso, a depender do câmbio.
O preço médio das commodities subiu 6,5% em janeiro, segundo um índice popular na praça, o CRB. No ano passado, o CRB subiu uns 24%. Nesse índice, da Thomson Reuters, é ponderada a evolução dos preços de petróleo, gás, trigo, soja, milho, café, algodão, carnes, suco de laranja, ouro, prata e platina, de acordo com as respectivas cotações em Bolsas americanas.
O preço do cobre é recorde. Os de outros metais estão chegando perto dos recordes de 2008, assim como os dos grãos; em meados de 2008 houve a rodada anterior da grande inflação de commodities, quando a economia mundial ainda estava superaquecida, apesar do declínio já evidente no mundo rico.
Dado que o Brasil tem uma balança comercial de petróleo mais ou menos equilibrada, em geral as exportações brasileiras melhoram de preço quando o CRB sobe. Em lugares ainda mais pobres e selvagens que o Brasil, onde a despesa com comida leva parte ainda maior da renda dos cidadãos (quando a renda existe, aliás), a alta do CRB tende a ser uma desgraça. Há pobres e miseráveis passando ainda pior no sul da Ásia e na África quase toda.
No Brasil, o preço das commodities em alta provocou surpresas como um deficit comercial menor do que o esperado em 2010. E outra surpresa em janeiro, um mês tradicional e relativamente mais fraco do comércio exterior. Mesmo com dólar barato e a decorrente surra em alguns setores industriais, o comércio exterior teve superavit em janeiro, pequeno, mas superavit. Mais interessante, a corrente de comércio (exportações mais importações) cresceu 32% sobre janeiro de 2010. O valor das exportações cresceu 34,5%, mais que o das importações (que cresceu 28,7%).
A resistência da balança comercial, o deficit externo menor do que o esperado, a torrente de dinheiro que vem entrando para fusões, aquisições, investimentos "produtivos" e outros, tudo isso ajuda a derrubar um pouco mais o dólar, o suficiente para avariar vários setores industriais, que perdem mercado no exterior e para importados.
Note-se, porém, que, embora o preço de commodities não cause aqui desgraças tão agudas como em lugares mais sombrios do planeta, a inflação desses produtos também contamina os preços no Brasil. O que empurra juros para cima. O que atrai um tanto mais de dólares, o que valoriza o real. O que prejudica alguns setores industriais. Etc.
O resumo da ópera é que estamos todos enredados por correntes de produção e consumo gigantescas, que alteram o clima econômico e até político do planeta. A bonança das commodities tornou o ambiente mais confortável para o governo Lula; agora, bate um pouco na inflação aqui, embora ajude a sustentar o equilíbrio externo. No norte da África, a mesma corrente turbina o preço da comida, o que enfurece o povo, o que balança ditaduras.
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