O aviso de Priscila, de Friburgo
ELIO GASPARI
O GLOBO - 19/01/11
Como diria Sérgio Cabral, o que houve na serra fluminense foi a "crônica da morte anunciada"
ESTE ARTIGO é um caso de apropriação indébita. Deveria ser assinado pela repórter Priscila de Lima, do site "Nova Imprensa" (novaimprensa.com.br), de Friburgo. Adiante vai seu texto, publicado no dia 25 de novembro do ano passado. Do signatário, são só as observações entre parênteses.
"Após 8 horas de chuva constante na madrugada do dia 21, a população de Nova Friburgo está apreensiva em relação ao início do período de chuvas. (...) O ponto de alagamento mais crítico no município continua sendo o distrito de São Geraldo que, apesar das obras do Programa de Aceleração do Crescimento estarem em andamento, em várias ruas ainda sofre com as inundações."
(Com a enchente de janeiro, os córregos de São Geraldo transformaram-se em cachoeiras, e as áreas planas, em igarapés. Casas foram cobertas pela água e moradores ilhados pediam comida. Os desabrigados reuniram-se na 5ª Igreja Batista, junto com 13 mortos.)
"Em algumas áreas, os bueiros não suportaram o volume de água, e as ruas ficaram alagadas. (...) O centro e os bairros de Duas Pedras, Solares e Amparo também tiveram ocorrências de deslizamentos, estragos e alagamentos em pequenas áreas."
(O pedreiro Leandro perdeu a casa, a mulher, a mãe e o filho de dois anos, mas juntou-se às equipes de resgate, orientando pilotos de helicópteros. Ele tinha água na cintura quando chegou a Duas Pedras. Está no YouTube.)
"De acordo com dados divulgados pela Defesa Civil de Nova Friburgo, de domingo a quinta-feira foram feitas 97 solicitações de vistoria. No domingo, 21 [de novembro], foram registrados mais de 60 mm de chuva das 6h às 8h30. Em outro ponto da cidade, o nível de água atingiu 80 mm no mesmo período.
O distrito de Campo do Coelho foi o que apresentou o maior índice do município, chegando a 90 mm."
(Em janeiro, os bombeiros só conseguiram chegar ao Campo do Coelho três dias depois da enchente. Moradores se mobilizaram e resgataram cerca de 110 pessoas. Quarenta morreram.)
"O subsecretário de Defesa Civil, tenente-coronel bombeiro militar Roberto Robadey, disse que, para evitar transtornos, a população deve tomar medidas simples:
"É fundamental que as pessoas não joguem lixo ou qualquer outro tipo de resíduo nas ruas (...). A Defesa Civil tem trabalhado também na divulgação do uso do pluviômetro caseiro, que consiste em uma garrafa pet com uma régua.
Esse material capta a chuva e permite que o próprio morador observe o nível de água que representa risco para ele, ou seja, o registro de até 40 mm não consiste em perigo de deslizamento de um barranco, por exemplo. A partir dessa medição o morador pode tomar a decisão de sair de sua casa para um local mais seguro"."
(Conclusão: o povo joga lixo onde não deve e, quando o pluviômetro caseiro ultrapassa 40 mm, continua em casa. Ir para onde, ninguém diz. Nem a Defesa Civil de Friburgo ou a do Estado tomaram providências em novembro, muito menos em dezembro, até que, em janeiro, quando veio a água, ninguém sabia o que fazer, onde fazer, nem como fazer.
No dia 29 de dezembro, a turma do site Nova Imprensa informou que tentou ouvir o secretário de obras de Friburgo, Hélio Gonçalves, mas ele não estava na cidade. No início do ano, o governador Sérgio Cabral estava no exterior.)
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