Problema bom
Celso Ming
O Estado de S.Paulo 19/01/11
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, está comemorando mais um recorde: a criação de cerca de 2,5 milhões de empregos novos com carteira assinada em 2010, tal como apontado por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Dia 27, o IBGE, que mede o nível de ocupação no Brasil (e não apenas as relações de trabalho), deverá confirmar essa forte melhora na situação do emprego. Em novembro, o desemprego já havia desabado para 5,7%. Em dezembro, mês em que normalmente mais gente é contratada para dar conta do aumento da demanda das festas de final de ano, esse número deve ter melhorado. Os dados do Caged acusaram em dezembro o aumento de 58 mil novas vagas em relação às existentes em novembro.
Nada menos que 39,9% ou 1 milhão de postos de trabalho foram criados no setor de serviços. Enquanto isso, o comércio contribuiu com outros 602 mil e a construção civil, com 329 mil (veja o Confira). É natural que a indústria perca espaço como grande contratadora. Foi e está sendo assim nas economias mais desenvolvidas e é inevitável que aconteça também no Brasil. Isso não significa que o País esteja sendo atacado pela desindustrialização, como insistem alguns dirigentes do setor.
E é preciso prestar mais atenção ao que está acontecendo nos serviços. Até mesmo especialistas em Política de Trabalho continuam presos por padrões do passado que atribuíam à indústria a criação de empregos de mais qualidade. Há um grande número de atividades novas ganhando corpo na informática, na assistência técnica, segurança, turismo, moda e educação física. A área de telemarketing, por exemplo, tem apenas 30 anos e, no entanto, emprega, somente no Estado de São Paulo, 400 mil pessoas. É um segmento ainda em fase incipiente, marcado pela alta rotatividade e por salários relativamente baixos, que, no entanto, passa por forte expansão.
O governo conta com a criação de mais 3 milhões de postos de trabalho em 2011. É cedo para garantir o sucesso dessa meta, porque as projeções apontam para alguma freada na atividade econômica. Ainda assim, em 2011, o PIB deverá crescer algo em torno dos 5%. Parece inevitável que o nível de quase pleno emprego seja mantido. Somente a Petrobrás está anunciando 14 mil novas vagas até 2014 com concurso público. Ela tem hoje 77 mil funcionários.
A boa fase na área do emprego tem dois custos. O primeiro deles é mais geral. Um nível de desemprego inferior a 7% no Brasil deixa de ser neutro na formação de preços. Isso quer dizer que tende a pressionar por aumentos salariais acima dos índices de produtividade da economia.
Já faltam engenheiros, pedreiros, eletricistas, soldadores, mecânicos e tantos profissionais mais. A escassez de mão de obra deve aumentar e acrescentar mais custos à atividade econômica. As empresas não terão outra opção senão a de recrutar pessoal nas camadas de mais baixa qualificação. Em consequência disso, esbarrarão em outra enorme deficiência do País que é a baixa qualidade do ensino e a falta de níveis médios de capacitação. É o que levará a um aumento inevitável dos custos com treinamento e preparação.
Em todo o caso, se há um bom problema para ser resolvido é esse aí: o de escassez de mão de obra.
Steve Jobs
Parece importante sinal dos tempos o que aconteceu no noticiário econômico dos jornais brasileiros de ontem. A matéria publicada por todos eles e que apareceu com mais ênfase foi o afastamento, por licença médica, do presidente da Apple. O fascínio provocado pelo iPad e pelas novas engenhocas eletrônicas passou a exigir que fatos dessa ordem sejam objeto de amplas análises.
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