Crença do BC
ANTONIO OLIVEIRA SANTOS
O GLOBO - 31/01/11
A aceleração do crescimento econômico pode gerar problemas internos e externos, como pressões inflacionárias e desequilíbrio na conta corrente do balanço de pagamentos. A partir dessa realidade, torna-se evidente a necessidade de conciliar, no quadro da política econômica, as políticas monetária e fiscal, a fim de que atuem na mesma direção.
A inflação brasileira teve um comportamento exemplar em 2009: o IPCA/IBGE subiu 4,31% e o IGP-DI/FGV caiu 1,43% (deflação). Em 2010, os primeiros cinco meses foram de forte alta dos preços, no varejo e no atacado, influenciada pelo mercado externo; mas, nos três meses seguintes (junho, julho e agosto), os preços no varejo desabaram. A partir de setembro, novo período de alta, que começou a arrefecer em dezembro.
O que se vê é uma forte oscilação de altas e baixas, originada no mercado interno, por instabilidade climática, mas, principalmente, derivada do exterior, face às tempestades na Austrália e ao calor na Rússia (que afetaram a oferta do trigo), às inundações na Índia (que reduziram as exportações de açúcar) e outros fatores, inclusive a forte demanda da China. Em 2010, o preço do minério de ferro subiu 142%, do café e da carne, 35%, da soja, do milho e do açúcar, mais de 25%, além dos produtos da siderurgia (24%) e vários outros.
Do lado do balanço de pagamentos, o que se viu foi um excesso de demanda interna, fomentada pelo crédito, puxando fortemente as importações, que cresceram 42,2% em 2010.
Ficam difíceis as previsões sobre o que vai acontecer no futuro próximo e qual o rumo da política econômica neste primeiro ano do governo Dilma. Mas há algumas certezas: 1) é imperiosa a necessidade de enxugar os gastos correntes do setor público, para que haja recursos para os investimentos na infraestrutura; 2) é indispensável manter o compromisso com a estabilidade monetária; e, 3) para que essas coisas possam acontecer, é preciso que as medidas de controle da inflação não fiquem baseadas nas elevações da taxa Selic.
O governo induziu o aumento do crédito oficial no BNDES, CEF e BB e a expansão se propagou através do sistema bancário privado. Até dezembro de 2009, bancos oficiais expandiam as operações de crédito em média anual de 32%, e bancos privados, 9%. Agora, os bancos privados já expandem a 21,5%, praticamente o mesmo que os bancos públicos.
Essa expansão do crédito estimulou o consumo e os investimentos, e criou pressões inflacionárias, na medida em que não houve redução proporcional nos gastos do governo. Em contrapartida, a valorização cambial estimulou as importações e reduziu os preços dos produtos importados. Há quem diga que foi a crise internacional, a partir do aumento da liquidez criada pelo governo americano e pelo Federal Reserve, que elevou os preços das commodities e produziu enorme ganho nas relações de troca, a favor do Brasil. Esse raciocínio ignora as verdadeiras causas originais. Mas é óbvio que as pressões inflacionárias do crédito foram amenizadas pelo aumento das importações. O BC tem que deixar de crer que é a Selic que controla a inflação.
Como não há certeza sobre o curso da inflação nos próximos meses, é uma temeridade qualquer decisão do BC para elevar ou mesmo manter a taxa Selic em nível tão mais alto que as taxas de juros internacionais.
ANTONIO OLIVEIRA SANTOS é presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
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