Mundo em chamas
PAULO GUEDES
O GLOBO - 25/10/10
Tenho destacado as dimensões épicas da crise atual. Foram devastadores os excessos cometidos por financistas anglo-saxões contra o regime fiduciário ocidental e os abusos da social-democracia europeia contra o financiamento das redes de solidariedade que sustentam a civilização contemporânea.
O noticiário europeu desta semana revela um continente em chamas. O rastilho da crise atravessou Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Irlanda, atingindo agora em cheio a França e a Inglaterra.
Os franceses pararam em protestos contra o aumento da idade mínima de aposentadoria. Já o governo britânico anunciou o maior pacote de austeridade desde a II Guerra Mundial, com demissões em massa no funcionalismo público, elevação da idade mínima de aposentadoria, cortes em benefícios previdenciários, programas de auxílio habitacional e familiar e fim do seguro-desemprego por prazo indeterminado.
Foram décadas de abusos.
Chegou a hora de pagar a conta.
O mundo não será o mesmo depois da crise. Estamos diante de um novo fenômeno estrutural: o relativo declínio do Ocidente por seus próprios excessos.
Os ocidentais terão de se ajustar a uma nova realidade: o desafio de incorporar aos mercados de trabalho globais 3,5 bilhões de trabalhadores das economias emergentes eurasianas.
Mão de obra cada vez mais qualificada, sem encargos sociais e trabalhistas, sem benefícios previdenciários.
Os chineses, particularmente, elegeram os mercados globais o principal instrumento para a erradicação da miséria e a inclusão social de seu enorme contingente de mão de obra. O Partido Comunista mergulhou nos fluxos internacionais de comércio centenas de milhões de trabalhadores chineses. Essa integração da China ao capitalismo mundial não apenas sustenta o sucesso material e a longevidade de uma ditadura comunista como também se tornou um desafio existencial aos abusos cometidos pela civilização ocidental.
O excesso de poupança dos asiáticos financiou por muito tempo o extravagante consumo dos americanos, seus déficits fiscais e comerciais. Mas chegou a hora do divórcio entre as formigas chinesas e as cigarras ocidentais. Os chineses trabalham duro e poupam bastante.
Os americanos tentam construir pontes de papel para a riqueza. Os europeus querem viver do Estado, ou seja, de impostos pagos pelo trabalho alheio.
E nós, brasileiros, vamos encarar as reformas ou sonhar com o pré-sal?
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