Sair atirando
Ruy Castro
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/09/10
Um sujeito é demitido de uma empresa, expulso de uma corporação ou alijado de uma sociedade, e não se conforma. Como acha que não fez por merecer, sente-se perseguido e injustiçado. Mas a decisão é irreversível e só lhe resta uma vingança: sair atirando. Manda vir o trombone e o ventilador e bota para fora tudo o que sabe dos ex-patrões. Os atingidos, se puderem, saiam de baixo. É natural.
Suponha agora que não haja nenhuma ameaça sobre o emprego do homem, e ele só terá de sair porque seu contrato terminou. Não apenas poderá cumpri-lo até o último dia como 84 por cento das pessoas não querem que ele saia. Mas, já que ele terá de sair, aceitarão quem quer que ele indique para o seu lugar – inclusive uma mulher de quem nunca tinham ouvido falar. A qual, pelo visto, apenas esquentará o assento para a sua volta triunfal ao emprego daqui a quatro anos.
Daí ser menos natural que este homem, com tudo a seu favor, também tenha de sair atirando. Mas é o que está acontecendo com o presidente Lula, cujo grau de irritação nos últimos dias contra a oposição, a imprensa e as 'elites' deve ter chegado a níveis preocupantes para seus médicos. A economia do país vai às maravilhas, sua candidata à sucessão pode se eleger direto no primeiro turno e o filme sobre sua vida vai concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro – precisava mais?
Soberba é pecado. Lula, em vez de aborrecer-se, deveria seguir o exemplo do palhaço Tiririca, que, do alto do quase 1 milhão de votos que farão dele deputado federal por São Paulo, está disposto a qualquer gesto de humildade para garantir sua posição.
“Tiririca”, no Aurélio, quer dizer erva daninha, graminiforme, difícil de erradicar, famosa pela capacidade de invadir velozmente terrenos cultivados. Significa também pessoa furiosa, muito irritada. Lula está tiririca de graça.
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