Para onde vamos?
Roberto Rodrigues
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/09/10
Queremos ir para o Brasil mesmo, o país do futuro, o país onde todos tenham asmesmas oportunidades
FALTAM OITO dias para as eleições, estando praticamente definida a Presidência da República, bem como governadores de partidos de oposição em importantes Estados.
Para onde vamos? Para a Venezuela ou para o Canadá; para a China ou para o Japão?
É muito relevante conhecer com clareza as crenças dos candidatos pré-eleitos. Sabendo-se seus princípios e valores, fica mais fácil enxergar o futuro, porque norteiam o comportamento de todo e qualquer cidadão: seus atos são mais previsíveis e há consistência entre eles.
Certas questões não se ordenam sem esses orientadores.
Uma delas é a relatividade. Às vezes, até da verdade: lembro-me de uma entrevista coletiva que dei a vários jornalistas explicando determinada decisão e, no dia seguinte, havia diferentes interpretações na mídia. E ninguém mentia. Apenas cada um vestia a informação com a sua verdade. Tudo é relativo, mas com valores sólidos, a gente é menos objeto, é mais sujeito.
Outra questão é a precariedade das coisas. Quantos exemplos existem de líderes empresariais ou institucionais que realizaram grandes obras, importantes projetos considerados eternos e que foram destruídos por seus sucessores! Fortunas erguidas por gigantes da indústria privada foram dilapidadas por seus herdeiros. E belos projetos de governantes foram considerados desnecessários pelos sucessores e sumariamente descartados! Até a vida é precária... Só princípios e valores sólidos nos permitem resistir às tormentas da precariedade.
E, por último, a pendularidade. Movimentos coletivos vão e vêm sem uma lógica visível: só depois que passam, podem ser compreendidos e explicados pela academia. Há poucas décadas a maioria dos países da América do Sul tinha governos militares de orientação ideológica à direita. Aos poucos, migraram para a democracia, fato notável. E agora, sem uma explicação cabal, há uma guinada populista à esquerda, como na Venezuela, na Bolívia, no Equador, no Paraguai, no Uruguai. Por que? Como isso acontece? Só valores e princípios firmes fazem as sociedades e seus líderes vencerem esses movimentos pendulares da história sem perderem seu próprio rumo, sem verem erodido o terreno a seus pés.
Relatividade, precariedade, pendularidade demandam robustez de crenças.
Pois bem, o que pensam nossos candidatos já ou quase eleitos? Que acham dos temas reais de interesse da sociedade brasileira, que não sejam as respostas arquitetadas pelos brilhantes marqueteiros das campanhas eleitorais? Que valores e princípios estarão dentro dos pacotes embrulhados pelos comunicadores? É importante sabê-lo, para termos a noção de para onde vamos.
E seria estupendo se os eleitos concordassem que precisamos de um Estado indutor eficiente. Não um Estado fazedor das coisas, mas que induza, de forma constitucionalmente organizada, os investimentos e as ações do setor privado na direção do desenvolvimento sustentável, como quer o mundo contemporâneo.
Um Estado que garanta o direito de propriedade, que garanta o respeito e o cumprimento dos contratos, que garanta o direito da remuneração pelo trabalho. Que estabeleça uma tributação leve e equânime, que patrocine os bens públicos essenciais: educação, saúde, infraestrutura e estabilidade da moeda; que controle as despesas públicas, que regule a atividade econômica sem nela interferir. Que estimule a competição e priorize a igualdade de oportunidades para todos.
Esses são princípios essenciais, e só com eles poderemos realizar as indispensáveis reformas, como a tributária e a política, fortalecendo as instituições e a democracia, confiando na Justiça e na equidade. Só assim saberemos para onde vamos: e querem ir para o Brasil mesmo, o Brasil do futuro, o Brasil potência democrática e livre, onde todos tenham as mesmas oportunidades para crescer em paz e harmonia.
Que Deus ilumine nossos eleitos para que tenham princípios e valores lastreados na decência e na honestidade, na grandeza e na verdade, no amor e na Justiça.
ROBERTO RODRIGUES, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp -Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula).
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