O que é isso, companheira?
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/05/10
SÃO PAULO - "Vocês notaram que do Gabeira ninguém fala? Esse sim sequestrou. Ele era o escolhido para matar o embaixador. Ninguém fala porque é candidato ao governo do Rio e se aliou ao PSDB".
Marta Suplicy falava como militante petista, em defesa de Dilma Rousseff. Mas, dentro dela, falava também a sinhazinha que Marta tantas vezes não consegue reprimir: "Esse sim sequestrou"!
A frase lembra, é claro, o "relaxa e goza", que ela, ministra do Turismo, dirigiu às vítimas do caos aéreo em 2007. Lembra ainda a pergunta que seu programa de TV fazia a Gilberto Kassab na campanha de 2008: "É casado? Tem filhos?".
Da primeira, Marta se desculpou logo. Da segunda, premeditada, veio se desculpar só recentemente, numa entrevista para a TV. O deputado deve esperar mais um pouco.
Gabeira tinha o codinome de Honório quando alugou a casa que serviu como cativeiro do embaixador Charles Elbrick, sequestrado em setembro de 1969. Era uma figura secundária na operação. Não integrou o grupo que capturou o americano nem, muito menos, seria seu assassino se as coisas desandassem.
O provável algoz de Elbrick, conforme todos os relatos, seria Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, veterano da ALN que comandava a ação. A ideia do sequestro, que Elio Gaspari no seu livro chama "o grande golpe", havia sido de Valdir. Era este o nome de guerra de Franklin Martins, atual ministro de Lula.
Tudo isso é história conhecida, que Marta deve saber. Mais, pelo menos, do que se sabe a respeito da atuação de Dilma entre 1967 e 1970, na Colina e na VAR-Palmares, também adeptas da luta armada.
"Lutei contra a ditadura do primeiro ao último dia, com os meios e as concepções que eu tinha", disse ela outro dia no programa de TV do PT. Era uma fala sinuosa, cheia de termos proibidos, como se Dilma precisasse ocultar do grande público algo de que, no fundo, se orgulha. Gabeira é diferente. Este, sim, virou a página da guerrilha. E não consta que seja um monstro de direita.
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