Há sentimentos contraditórios no PMDB atualmente.
No curto prazo, a mais recente pesquisa do Datafolha acendeu no partido um sinal de alerta, com a desconfiança de que possa perder a capacidade de se impor na coalizão. Por conta de achar que Dilma está forte o suficiente, o governo pode forçar a mão para indicar um vice a seu gosto, ao gosto de Lula, e não ao do PMDB. Um nome assim como o do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que se filiou ao partido por orientação de Lula. Seria um vice de Lula, não do PMDB.
Ao PMDB só interessa entrar na chapa oficial, e portanto assumir o risco de uma derrota da ministra Dilma Rousseff, se isso significar ser mais importante do que é hoje.
A equação é simples: mesmo que o PMDB não suba no palanque governista, estará representado no próximo governo, seja ele de Dilma ou de Serra.
Seja quem for vai ter que compor com o PMDB, que ocupará aqueles ministérios de sempre. Só que o PMDB agora quer mais que isso, não quer um governo do PT com o PMDB como um aliado como qualquer outro.
Quer um governo que seja do PT e do PMDB.
Tanto no que se refere à ocupação de espaço no Ministério e na máquina pública (que disso não abre mão), mas, sobretudo, na definição política e de rumos do governo.
O PMDB avalia que só vale correr o risco se houver uma recompensa que seja uma mudança do patamar de sua influência, que aliás já mudou no segundo governo Lula.
O PMDB avalia que hoje no governo Lula sua posição já é mais central do que jamais foi no governo de Fernando Henrique, onde sempre ocupou alguns ministérios, mas nunca tantos e com a densidade dos que ocupa hoje: Minas e Energia, Comunicações, Saúde, Agricultura, Integração Nacional.
Lula tratou o PMDB de uma maneira diferente, e, exatamente por isso, os caciques peemedebistas querem mais.
Querem ser governo mesmo, um governo onde os espaços sejam definidos antes, onde eles tenham uma garantia de atuação.
O problema grave é que nenhum dos dois lados confia no outro. Os dois lados sabem como é forte a natureza do outro.
Não é, e nunca será, uma relação de confiança. Por isso mesmo tudo, na concepção dos caciques do PMDB, tem que ser pactuado antes da campanha começar para valer, e com clareza.
A definição do vice virou, assim, a primeira queda de braço para ver quem terá realmente poder num eventual governo Dilma.
Se o PT conseguir que o PMDB escolha o vice de interesse do PT e de Lula, estará claro, antes mesmo de a campanha ter início, quem estará dando o rumo de um futuro governo.
Ao contrário, se o PMDB conseguir impor seu nome, que é o deputado Michel Temer, presidente da Câmara, estará deixando claro que terá um protagonismo nesse eventual futuro governo.
O PMDB sempre foi um partido dividido entre o grupo do Senado e o da Câmara, entre o grupo do deputado federal Michel Temer e o do senador Renan Calheiros.
Agora, mesmo com o Planalto jogando a isca de que o vice poderia ser um senador — Hélio Costa ou Edson Lobão, dois ministros do governo — houve uma inusitada aliança em torno do Temer.
Renan Calheiros foi fundamental para que o PMDB antecipasse a convenção e reelegesse Temer para a presidência do partido. Ele sabe que, mais importante que a briga interna dele com Temer, é a briga do PMDB com o PT.
Neste momento, os dois lados do PMDB juntaram forças, coisa que não acontecia há muito tempo, para garantir que o partido estará unido na hora de impor as condições ao novo governo.
Há dissidências, mas são minoritárias. Unido, o PMDB está valorizando seu peso nessa negociação. No entanto, não há no momento muita margem para negociar ameaçando ir para o PSDB, embora o governador José Serra já tenha feito vários acenos.
Há um grupo do PMDB, basicamente do Norte e Nordeste, que quer ir com Lula independentemente de qualquer coisa, e é um grupo muito forte.
O PMDB do Pará, do Jader Barbalho, por exemplo, tem mais força dentro da convenção do que o de São Paulo. O PMDB do Ceará é o terceiro maior diretório.
Entre os cinco maiores está também Goiás, onde a popularidade de Lula é muito grande.
Existe no PMDB hoje uma avaliação de que Dilma ganha a eleição. Por isso estão preocupados, à medida que a candidatura da ministra vai crescendo, o peso político de Lula aumenta e o do PMDB diminui.
Esse é um jogo de paciência, mas o PMDB está acostumado a isso. Embora os pragmáticos considerem que é melhor uma parte menor no governo do que uma maior da oposição, a estratégia de estressar a relação pode dar errado.
Basta que nas negociações estaduais, dois ou três estados importantes não cheguem a um acordo com o PT. O deputado federal e ex-ministro, candidato ao Senado, Eunício Oliveira, comanda o Ceará, e está irritadíssimo com a intenção do PT de lançar também um candidato ao Senado, o ministro José Pimentel.
E partiu para uma composição com o governador Cid Gomes, do PSB, que apoia Tasso Jereissati, do PSDB, para o Senado.
No Rio de Janeiro, embora tenha conseguido tirar do páreo o candidato do PT ao governo, o governador Sérgio Cabral pode se ver na contingência de se afastar do apoio de Dilma se o projeto de divisão dos royalties do pré-sal prejudicar o estado.
O PMDB tem noção clara de que pode vir a ser o fiel da balança, no sentido de conter uma tendência mais à esquerda de um governo Dilma Rousseff, empurrado pela ala mais radical do PT.
Com o PT e sem Lula, o PMDB quer garantias de que terá espaço em um governo Dilma. E, mais que isso, está querendo assumir o papel de fiador do estado de direito.
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