Questão de força e de estilo
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/03/10
BRASÍLIA - Para os americanos, é difícil entender por que o Brasil insiste em andar na contramão e rejeitar o consenso entre EUA, França, Reino Unido e agora Rússia a favor de uma cacetada no Irã, para ver se o país de Mahmoud Ahmadinejad toma jeito e para de brincar de fazer a bomba atômica.
Mas, para o governo brasileiro, o Irã é um país grande, complexo, difícil, com uma cultura persa milenar e riquíssima e não reage assim. Não é com uma cacetada do Conselho de Segurança da ONU ou dos EUA, unilateralmente, que o país vai se render "a algo imposto a ele", como disse o Celso Amorim ontem, em entrevista conjunta com Hillary Clinton, no Itamaraty.
EUA e Brasil concordam em que a situação do Irã é preocupante e só vem piorando, com a ameaça crescente de Ahmadinejad de enriquecer urânio em níveis suficientes para a bomba. Obviamente, nem EUA, nem Brasil, nem ninguém de bom senso pode querer isso.
O que divide os dois países é como evitar. Sai presidente republicano, entra presidente democrata, os EUA continuam achando que se resolvem as coisas atacando o país alheio, apesar do imenso custo da invasão do Iraque. Já o Brasil, bonito e pacífico por natureza, mas que beleza!, acha que é possível conversar, contornar, chegar a um acordo.
Se não der em nada -e Hillary deixou claríssimo ontem que não dá um tostão furado pela negociação brasileira-, o Brasil ainda tem uma saída. Como nunca disse como irá votar no Conselho de Segurança da ONU, essa porta está aberta.
Tudo depende de intensas gestões e advertências diretas ao Irã, até a conversa "franca" que Lula pretende ter com Ahmadinejad em maio, em Teerã. Ou, como ele disse ontem, depende do próprio Irã.
Tentar intermediar o diálogo e evitar a guerra é uma coisa. Afundar junto com a teimosia alheia é outra, bem diferente. Ou seja: a boa vontade do Brasil com o Irã tem prazo e, principalmente, limite.
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