sábado, março 06, 2010

MAÍLSON DA NÓBREGA


REVISTA VEJA
Maílson da Nóbrega 

O PT não conhece o BB

"O BB é agora outro banco. Seus executivos têm nível de 
qualificação semelhante ao dos dirigentes das instituições
privadas. A escolha para posições de liderança valoriza
mais a preparação acadêmica e o treinamento"

Após ser sagrada futura candidata do PT à Presidência, a ministra Dilma Rousseff assumiu dois compromissos: preservar a política econômica e promover o desenvolvimento com base em um "estado forte".
Ela diz que esse "estado forte" não significa o estatismo de outros tempos. De fato, a volta ao passado, ainda que desejada por muitos, é impossível. Não dá para imaginar o governo de novo pondo-se a produzir aço ou a vender farinha de trigo na porta dos moinhos. O estado seria o "indutor" e não o gestor do desenvolvimento. Palmas para a ministra se isso significar, por exemplo, melhoria na qualidade da educação, um sistema tributário racional e leis que incentivem o investimento privado em infraestrutura.
Acontece que as diretrizes do partido da candidata, o PT, divulgadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, sinalizam justamente intervenções como aquelas dos tempos passados. É o caso da criação de "campeões nacionais" via empréstimos generosos do BNDES. Montanhas de subsídios poderão conferir poder de mercado a grupos privilegiados. O resultado seria o aumento da concentração de renda, que o PT condenava. Como antes, haveria uma industrialização socialmente ineficiente.
Os aumentos de participação estatal no capital da Petrobras já preocupam investidores. Mas o pior mesmo seria usar o Banco do Brasil como alavanca da "grande transformação" de um governo Dilma, como se depreende do documento que engloba as tais diretrizes do PT. O assessor internacional de Lula, o petista Marco Aurélio Garcia, de inequívocas convicções estatistas, é um dos coordenadores do documento. Promete-se ali usar o crédito do BB para beneficiar o setor produtivo.
Essa visão, bolorenta, remonta ao tempo em que o BB dava crédito subsidiado com recursos do governo, os quais eram supridos por uma "conta de movimento", que se tornou insustentável quando a inflação agigantou a demanda desses recursos.
A conta foi extinta em 1986, sob intensa oposição dos que não viam sua impropriedade e o risco que ela impunha ao BB. Iniciou-se a longa transição até a virada final, entre 1995 e 1999. O banco viria a protagonizar a maior revolução de uma empresa estatal brasileira.
Cortado o acesso fácil ao Tesouro, o BB se reinventou. Autorizado a atuar em todo o sistema financeiro - a contrapartida natural do fim da "conta de movimento" -, o banco preparou-se para explorar novas oportunidades. Com seus melhores talentos e consultoria externa, redesenhou sua estrutura e reduziu o quadro de pessoal.
A área financeira foi separada da comercial. Essa segregação, comum nos bancos, tinha no BB uma justificativa adicional: blindá-lo contra o populismo de seu maior acionista. A área comercial empresta, mas a financeira fixa as condições. Em tese, não é mais possível direcionar o BB para ações "desenvolvimentistas".
O BB é agora outro banco, inclusive na formação de recursos humanos. Seus executivos têm nível de qualificação semelhante ao dos dirigentes das instituições privadas. A escolha para posições de liderança, no país e no exterior, valoriza mais a preparação acadêmica e o treinamento focalizado na excelência dos serviços e na competição no mercado.
O BB atua em todas as áreas, abrangendo as de gestão de recursos de terceiros, banco de investimento, previdência e seguros. Sua subsidiária no exterior, a BB Securities, é campeã de lançamento de papéis de empresas brasileiras nos mercados globais de capitais, superando tradicionais instituições nacionais e estrangeiras.
Em situações excepcionais, como na recente crise, o BB pôde assumir riscos maiores do que os bancos privados, aumentando sua participação na oferta de crédito. Fez isso de forma responsável, sem piorar os níveis de impontualidade. Nada a ver com seu passado de provedor do crédito subsidiado que beneficiava relativamente poucos.
As citadas diretrizes implicam eliminar a segregação de funções. O BB voltaria a ser instrumento de concentração de renda em lugar de avançar na modernização baseada na competitividade, meritocracia e boa governança corporativa.
Como fez Lula, Dilma pode desprezar tais ideias, que por ora serviriam para contentar segmentos mais atrasados e radicais do PT. A porta não seria aberta para desatinos e o BB continuaria a ser estrela de primeira grandeza na constelação do sistema financeiro brasileiro. Rezemos.

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