Para Lula, greve de fome sempre foi teatro
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/03/10
No caso dos sequestradores de Abílio Diniz, ele ficou do lado dos bandidos e pressionou FHC
NOSSO GUIA, ou Grande Mestre, como diz a comissária Rousseff, comparou as razões dos dissidentes cubanos que fazem greve de fome às dos delinquentes das prisões nacionais. O aspecto autoritário, intolerante e até mesmo servil da fala de Lula já foi universalmente exposto, mas resta um detalhe: a natureza farsesca de seu próprio recurso à greve de fome. Em 1980, quando penou 31 dias de cadeia que ajudaram-no a embolsar pelo Bolsa Ditadura um capital capaz de gerar mais de R$ 1 milhão, Lula fez quatro dias de greve de fome. Apanhado escondendo guloseimas, reclamou: "Como esse cara é xiita! O que é que tem guardarmos duas balinhas, companheiro?"
Em 1998, quando os sequestradores do empresário Abilio Diniz fizeram greve de fome na cadeia, Lula ligou para o presidente Fernando Henrique Cardoso e intercedeu por eles: "Olha, Fernando, você vai levar para a tua biografia a morte desses caras".
(Dar o mesmo telefonema para Raúl Castro, nem pensar.)
Nesse mesmo ano, quando Lula sentiu-se massacrado pelas denúncias de intimidades imobiliárias com o empresário Roberto Teixeira, saiu em busca de apoios e disse que cogitava fazer uma greve de fome. Não fez, e tanto ele como Teixeira alimentam-se bem até hoje.
Recordar é viver. Em plena ditadura, o presidente Ernesto Geisel foi confrontado por uma greve de fome de 33 presos políticos da Ilha Grande que reivindicavam transferência para o continente. Quando o jejum estava no 14º dia, Geisel capitulou: "Ceder a uma greve de fome é duro, mas eu prefiro ceder".
MASMORRAS DE HARTUNG
Realiza-se amanhã em Genebra um evento paralelo à reunião da Comissão de Direitos Humanos da ONU, durante o qual ficará disponível o "Dossiê sobre a situação prisional do Espírito Santo". Tem umas 30 páginas e oito fotografias de corpos esquartejados que ficarão cravadas na história da administração governador Paulo Hartung.
Na semana passada, neste espaço, foi publicado um texto intitulado "As masmorras de Hartung aparecerão na ONU". O jornal "A Tribuna", de Vitória, que detinha direitos de reprodução da coluna no Espírito Santo, deixou de publicá-la. Diante disso, o signatário encerrou suas relações profissionais com "A Tribuna".
Eremildo, que é um idiota, está convencido de que esse foi mais um passo da ofensiva chavo-petista para instalar o controle social dos meios de comunicação no Brasil. Informado de que o governador do Espírito Santo é do PMDB, já foi tucano, mas nunca passou pelo PT, o cretino pediu 250 anos para pensar no assunto.
O dossiê com as fotos dos esquartejados está no seguinte endereço: www.estadao.com.br/especiais/2009/11/crimesnobrasil_if_es.pdf.
Aviso: é barra muito, muito pesada.
EIKE PIÑERA
Exercício de quiromancia: até 2014 ou, quem sabe, 2018, alguém pensará no lançamento da candidatura Eike Batista à Presidência da República.
A revista Forbes acha que ele é o 8º homem mais rico do mundo. Sebastián Piñera, o homem mais rico do Chile (437º na lista da Forbes) assumiu a Presidência do seu país na quinta-feira passada.
A TUNGA DA TELEFONIA PERDEU UMA PARADA
Vem aí uma boa novidade. Nesta semana a empresa Nexus, associada à Telefônica, lançará um serviço chamado Talky, um avanço sobre a tecnologia do Skype. Ele permitirá a pessoas que têm acesso a um computador ligado à internet ou celulares do tipo smartphone fazer e receber ligações num sistema tarifário que pode custar nada, metade, ou até mesmo 10% do preço convencional.
As operadoras brasileiras enrolaram seus consumidores residenciais, retardando a oferta de tarifas baseadas em transmissões pelo sistema Voz sobre IP. Elas embolsam a economia que ele gera, mas não transferem a dádiva aos clientes. A Telefônica, com 15 milhões de fregueses, quebrou a mandinga e juntou-se a uma pequena empresa nacional (40 funcionários) que utiliza uma tecnologia israelense, pulando à frente dos grandes concorrentes.
Pelo Talky, por R$ 4,90 qualquer pessoa pode obter um número virtual, usando-o para fazer ou receber chamadas no computador. Até aí, é igual ao Skype.
Ele vai além, permitindo que o cliente programe o seu smartphone para funcionar como se fosse o computador, coisa que o Skype já faz para quem tem iPhone.
O minuto de uma ligação de São Paulo para Salvador, de um telefone fixo para outro fixo custa, na média, R$ 0,74. De um aparelho móvel para um fixo, sai por R$ 1,93. Com o Talky custará R$ 0,15, ou nada, se na outra ponta estiver um número do Talky. Em alguns casos a tarifa do Talky custará mais caro, mas o cliente poderá programá-lo, desviando esse tipo de operação para a modalidade mais econômica.
O Talky não rodará em Blackberries. Mesmo assim cobrirá 70% do mercado de smartphones. O pulo da Telefônica não mudará o cenário da telefonia brasileira, pois o nicho de smartphones mal chega a 8% dos 170 milhões de celulares existentes no país.
Abriu-se um buraco no muro que protege os lucros das operadoras deixando os consumidores ao largo das economias trazidas pelos avanços tecnológicos. Cinco anos depois da disseminação internacional do Skype, o muro começou a cair.
VENENO CURRICULAR
A Secretaria de Educação do Rio de Janeiro preparou uma proposta curricular para a disciplina de sociologia das escolas de ensino médio da rede do Estado. Entre os tópicos relacionados com as "desigualdades sociais", está a recomendação para que o professor leve os alunos a "compreender que a dominação europeia expressa pelo colonialismo e pelo imperialismo é a causa fundamental das desigualdades sociais".
Não explicaram como se ensinará o fracasso do colonialismo inglês na América do Norte, onde surgiram nações prósperas e livres como as dos Estados Unidos e do Canadá.
HADDAD REPROVADO
A burocracia do MEC e a realidade passaram uma motoniveladora em cima do ministro Fernando Haddad. Em março de 2009 ele anunciou um Enem nacional que mudaria para melhor a vida de 1,5 milhão de adolescentes que sofrem na máquina de moer carne do vestibular das universidades públicas.
Os estudantes poderiam fazer dois exames, um em agosto, por exemplo, e outro em novembro. Esse sistema diluiria a ansiedade da garotada.
Meses depois, Haddad recuou, decidiu fazer um só exame. Comprou o risco e produziu um desastre de provas roubadas, questões ineptas e colapsos da rede de informações da prova.
Haddad recuou de novo. Neste ano só haverá um Enem. Jogou fora o filé e serviu os ossos.
Como o Enem depende da adesão das universidades federais, é o caso de pensar se não seria melhor voltar ao velho e detestável modelo descentralizado. Quando o MEC estiver preparado para fazer seu serviço, recomeça-se a conversa.
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