Curiosa psicologia
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/03/10
BRASÍLIA - Não foi a primeira nem será a última vez que Lula coloca sua imensa popularidade a favor de más ideias e de péssimos atos, numa mistura curiosa e intrigante entre política e psicologia.
Ele disputou cinco eleições e se tornou não só presidente, mas um mito dentro e fora do Brasil: cruzou o país num pau de arara quando criança, não teve educação formal, resistiu à ditadura como sindicalista e se dedica a um país mais justo e a um mundo melhor. Mas defendendo o que sempre condenou? Justificando ditadores que prendem e matam por rotas bandeiras de 40, 50 anos atrás?
O que, afinal, Lula quer conquistar externamente ao desqualificar os manifestantes iranianos (sujeitos a execução sumária) como torcida de time perdedor? Confraternizar alegremente com Fidel justo no dia da morte de um dissidente em greve de fome? Comparar os que resistem à ditadura cubana a criminosos comuns brasileiros?
Não está claro também o que pretende legar internamente ao: trocar risos e abraços com Collor, depois de participar de sua tritura moral; defender o prefeito que bancou jatinho com dinheiro público para ir com mulher, sogra e amigos a Paris no Carnaval; mergulhar de cabeça para salvar Sarney; dizer que "imagens não falam por si" quando elas falavam tudo sobre a crise do DF.
Grandes líderes são amados no seu momento e nas suas circunstâncias, mas não necessariamente sob a perspectiva histórica, despida de calor e de propaganda. Lula parece inebriado com o personagem Lula, que pode falar, fazer e decidir pelo país como lhe vem à telha, com seu coquetel de valores, com o que julga "certo" e "errado".
Mas líderes não são personagens que possam ser reescritos e devem ter profunda noção de responsabilidade, para não embaralhar o "certo" e o "errado" e, assim, a percepção dos liderados e do mundo sobre o país numa área sensível: a dos princípios.
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