Fantasia de patriota
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/02/2010
RIO DE JANEIRO - Ao ver a foto do grupo de flibusteiros -casacas de veludo azul e vermelho, cabelos empoados, chapéus de três bicos e cada qual com um mosquetão, tudo com cara de brechó-, pensei que fosse um bloco de Carnaval. Mas no Idaho, um dos Estados mais caretas e sem graça dos EUA?
A legenda da foto explicou: era um grupo de "patriotas" americanos -um conclave de organizações com nomes como Amigos da Liberdade, Aliança pela Liberdade ou Defensores da Liberdade. Na verdade, gente que está à direita de George W. Bush e para quem Barack Obama é o bicho e precisa ser exterminado antes de instalar sua "tirania socialista". Por tal tirania entendam-se medidas sociais, proteção a imigrantes e injeções de dinheiro do Federal Reserve, o Banco Central americano, para salvar a economia -à custa, dizem eles, de suas economias.
Meio que inspirando e unindo essas organizações está o agressivo "Tea Party", sendo "Tea" um anagrama para "taxes enough already", ou "chega de mais impostos" -um movimento surgido há um ano na esteira da recessão, do desemprego e da própria existência de Obama. Não é ainda um partido, mas, pela preocupação do Partido Republicano com o seu crescimento, não demora a ser.
O "Tea Party" é composto de senhoras patuscas que, até há pouco, estavam de avental sujo de ovo, fritando bolinhos, e não saberiam apontar Washington no mapa. Hoje promovem comícios com seguranças armados, usam retórica racista, estimulam a formação de milícias e falam até numa nova guerra civil. Sua heroína é Sarah Palin, candidata a vice na chapa Republicana derrotada por Obama e uma das mulheres mais ignorantes -e espertas- da América.
Decididamente, essa turma fantasiada de patriota parece a fim de tudo, menos de Carnaval.
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