FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/10
BRASÍLIA - Debates intermináveis, ânimos alterados, faíscas no ar. Esqueça tudo isso. A febre do assembleísmo desta vez não se apossou do PT. Ontem, durante as discussões em torno da política de alianças e das diretrizes para o programa de governo de Dilma Rousseff, o clima do 4º Congresso Nacional do partido não poderia ser mais frio, cordato e comportado.
No auditório, os delegados mais pareciam um rebanho de ovelhas. Falas breves e quase sempre mornas eram seguidas de votações previsíveis a favor da direção partidária. Mesmo as concessões pontuais à esquerda -destacadas com tanto estardalhaço- parecem ser apenas migalhas de pão amanhecido do socialismo para satisfazer uma militância já satisfeita pelo lulismo.
O congresso do PT cumpre um roteiro de cartas marcadas. As ovelhas negras e desgarradas perderam o antigo apelo e hoje são espécimes exóticas a enfeitar a paisagem. Nesse ambiente pacificado de cima para baixo, não há, como diz um dirigente petista, nenhuma disposição para tornar visíveis atritos ou divergências que possam atrapalhar a candidatura de Dilma.
A ex-prefeita Marta Suplicy fala em "amadurecimento político" para descrever o que o secretário-geral, José Eduardo Cardozo, chama de "o mais calmo dos congressos do PT". O fato, muito evidente em Brasília, é que o partido ritualiza sua rendição ao êxito do lulismo.
Candidata indicada pelo presidente, Dilma será hoje referendada com festa pelo PT. Mais definida ideologicamente do que Lula, a ministra será naturalmente acolhida pela base social histórica do petismo. Seu desafio não é esse, mas antes o contrário: sendo cria de Lula, ela terá de transpor os limites do partido para alcançar a massa que compõe a base social do lulismo.
Essa é a "grande interrogação" da campanha, que a euforia de hoje não irá dissipar. Como diz Maria da Conceição Tavares, convidada de honra do congresso petista, para o povão, Dilma é "a mulher do Lula". Só veremos lá adiante, nas urnas, o que pensam disso os filhos do casal.
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