Reviravolta brasileira é o fim da teimosia
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/2010
O Brasil demorou, mas finalmente cedeu e vai apoiar o presidente Porfirio "Pepe" Lobo, vitorioso em eleições convocadas antes do golpe que derrubou o antecessor Manuel Zelaya e amplamente reconhecidas como legítimas.
A essa guinada brasileira se pode chamar, coloquialmente, de fim da teimosia.
Se teve papel importante na condenação internacional ao golpe e ao governo golpista de Roberto Micheletti, o Brasil também teve uma participação igualmente importante, mas em sentido contrário, para evitar o consenso e suavizar a transição hondurenha para a normalidade.
Foi o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que mais atiçou os ânimos na América do Sul contra a eleição, contra a vitória de Pepe Lobo e, afinal, contra o novo governo.
Bateu de frente, por exemplo, com o governo de Barack Obama, que desde o início vislumbrou e alardeou a nova eleição como a melhor, senão a única, saída da crise política.
Apesar de não admitida, é provável que a nova guinada brasileira a favor do governo Pepe Lobo tenha a ver com o trabalho de convencimento do novo embaixador americano em Brasília, Thomas Shannon, que já na sua primeira entrevista admitiu a articulação para um apoio geral das Américas ao novo governo.
A guinada, porém, não pode ser a seco. Tem de ser devidamente recheada de ressalvas e condicionantes próprios da diplomacia. Significa que o Brasil chegará à reunião do Grupo do Rio, na semana que vem, no México, com uma lista de reivindicações a Lobo.
Coisas assim: ele deve fazer um governo de "conciliação nacional", permitir a volta e o livre trânsito de Zelaya e encerrar o processo contra o Brasil que Micheletti abriu na Corte Internacional de Haia.
Além de, como disse o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, criar uma "comissão da verdade" para destrinchar o golpe e apontar os golpistas contra Zelaya. Seria como exportar para Honduras o maniqueísmo aberto dentro do próprio Brasil pela Comissão da Verdade que vai analisar os crimes cometidos pela ditadura militar (1964-1985).
Mas são só formalidades. O fundamental é que Baumbach anunciou oficialmente a reviravolta brasileira, indicando que Honduras poderá, enfim, suspirar aliviada e de volta aos quadros da OEA.
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