LULA DISSE a seus ministros que quer acabar com a "novela do preço do álcool". Mandou a Fazenda e a Agricultura discutirem com os usineiros como levar à prática a antiga ideia de estoques reguladores. Antiga, pois o script da novela do álcool caro é sempre o mesmo e nunca resultou em mais do que remendos. Primeiro remendo, reduz-se a quantidade de álcool misturado à gasolina. Depois, empresários do setor pedem reduções de impostos, inclusive os de importação. A difusão do zum-zum sobre a necessidade de importar o produto, algo bizarro no Brasil canavieiro, serve para pressionar o governo e levá-lo à mesa de reuniões. Foi o que aconteceu em 2006, por exemplo. É o ocorre agora. Desde sexta-feira, Fazenda, Agricultura e empresas conversam sobre o que fazer para dar um jeito nas flutuações excessivas de preço. No governo federal, discute-se ainda uma nova regulação para o setor, mais ampla e centralizada na Agência Nacional do Petróleo. Os preços continuam a subir. Segundo as cotações do Cepea/Esalq, o litro do álcool hidratado na porta das usinas, sem impostos, subiu mais 1,37% na semana encerrada em 22 de janeiro (o Cepea é o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq, a escola de agronomia da USP). Os preços do álcool anidro e hidratado, porém, estavam baixos em meados de 2009, de abril a agosto, como de costume, mas entre os mais baixos desde 2006. No final do ano, os preços subiram também mais do que a média. De junho a dezembro, a alta foi de 72% em 2009 (ante 10% em 2008 e 12% em 2007). O que aconteceu? "Várias usinas consultadas pelo Cepea que necessitavam de recursos se ressentiram do encolhimento mundial do mercado de crédito e tiveram de aumentar a oferta do combustível para "fazer caixa", aceitando, por vezes, preços menores", diz relatório dos pesquisadores da Esalq/ USP. O governo federal ofereceu crédito para a estocagem de álcool para a entressafra. Os mesmos R$ 2,5 bilhões que, diz o governo, o BNDES deve novamente oferecer. O dinheiro seria suficiente para estocar cerca de 5 bilhões de litros de álcool, o consumo de dois ou três meses (logo, o bastante para atender a demanda da entressafra, que vai mais ou menos de fevereiro a abril). Segundo o Cepea, porém, as usinas não conseguiam cumprir os requisitos para liberar o financiamento. Outros conhecedores do mercado, ouvidos pela Folha, dizem que outro motivo do desinteresse é que certas empresas simplesmente não tinham álcool para estocar. A demanda de álcool hidratado cresceu cerca de 25% de 2008 para 2009. Lembre-se que a crise de 2009 pegou as empresas endividadas devido a investimentos em expansão (e aquelas que haviam feito apostas cambiais erradas). Várias usinas assumiram que deixaram de pagar impostos em São Paulo a fim de ter caixa suficiente para sobreviver. Na Agricultura há apoio à ideia de zerar o imposto de importação do produto, o que é um remendo incerto. O Ministério de Minas e Energia é contra. Defende que o setor seja regulado pela Agência Nacional do Petróleo (atualmente, Agricultura, ANP e Minas e Energia dividem a supervisão); parece ter o apoio do núcleo do governo. |
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