China e faniquitos especulativos
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/01/10
China inicia aperto muito gradual do crédito; medida afeta mais quem especula com commodities e moedas
O FANIQUITO de ontem nos mercados baseou-se em dois boatos temperados por declarações vagas e óbvias de dirigentes chineses a respeito do aumento do crédito no país.
De publicamente concreto, o Banco do Povo da China, o BC deles, elevou pela segunda vez no ano (e em uma semana) a taxa de juros de seus títulos de um ano (0,16 ponto percentual, para 1,9264% ao ano) -foi na terça-feira. Ou seja, aumentou o custo de financiamento dos bancos no mercado interbancário, mas ainda se trata de quase nada. No dia 12, o BC havia anunciado um aumento na exigência de reservas.
Os boatos eram os seguintes: 1) O governo teria passado a controlar o volume de concessão de crédito de alguns grandes bancos;
2) Poderia haver já nesta semana uma alta da taxa "básica" de juros da China. Para as manadas dos mercados, a China estaria iniciando uma campanha de aperto monetário, a qual poderia conter o crescimento chinês e, assim, a retomada do crescimento no resto do mundo. Note-se, em primeiro lugar, que os dirigentes chineses demonstraram já inúmeras vezes que temem o crescimento "baixo" (6%, 7% na China), o qual poderia detonar tumulto social. Segundo, uma pequena contenção da China não vai desgovernar a economia mundial. Pelo contrário, pode evitar o risco de superaquecimento, superprodução e bolhas na China (além de conter a inflação de commodities).
O faniquito de ontem pode muito bem ter vindo do pessoal que gosta de especular no parque de diversões de moedas e commodities, que subiram de preço como se o consumo mundial estivesse à toda.
Essas mexidas no crédito podem não balançar o crescimento mundial, mas podem balançar apostas complicadas de especuladores. Por fim, o tumulto na Grécia e na eurolândia não ajuda o ambiente -o "risco Grécia" têm aumentado muito devido ao temor de quebra do superendividado governo grego. Pode ser que o governo tenha começado a apertar os bancos.
No mundo todo, tais coisas podem ocorrer por baixo dos panos, que dirá na China. Jornais chineses e correspondentes da mídia financeira ocidental relatam que, segundo funcionários de bancões chineses, o aperto teria começado. A esse respeito, a Comissão Reguladora dos Bancos Chineses (CRBC) disse oficialmente apenas que os programas de financiamento dos bancos para este ano não serão controlados.
A CRBC fez apenas o comentário de praxe e óbvio sobre os bancos terem de observar critérios de nível de risco e capital adequados etc. Também na quarta, Liu Mingkang, o presidente da CRBC, disse em público que o ritmo acelerado da liberação de financiamentos bancários nas duas primeiras semanas de janeiro foi "efeito retardado" do impulso ao crédito de 2009.
"Tal tendência vai ser moderada, já que a demanda foi satisfeita". No ano passado, o crédito novo na China foi de US$ 1,4 trilhão, que vem a ser mais ou menos o PIB brasileiro, quase o dobro dos empréstimos em 2008.
Nos primeiro 15 dias de janeiro, teria havido aumento de crédito de US$ 160 bilhões ("teria", pois isso é a média de analistas de bancos que mais acompanham a China, não é dado oficial) -é o quádruplo da média semanal do ano passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário