Ano nervoso
O GLOBO - 29/01/10
A turbulência dos mercados pode ser um presságio do que está por vir em 2010. Os analistas olham com cautela esses movimentos, ainda é cedo para conclusões, mas alguns sinais já indicam que será um ano nervoso. Depois do suspiro de alívio no fim de 2009, com a avaliação de que a crise estava sendo superada, surgem agora novos problemas, muitos decorrentes de erros do passado.
Todo mundo achava que 2010 seria um ano tranquilo e, de repente, surgiram três dúvidas: como funcionará o mercado de crédito americano; que desdobramento terá o problema fiscal dos países do leste europeu; como se comportará a economia chinesa com o aumento de juros e a retirada dos estímulos? — observa a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.
São questões importantes que geram efeitos no ritmo de crescimento mundial e mexem com o preço dos principais ativos: moedas, petróleo, commodities.
Monica acredita que a nova regulação proposta por Obama para o mercado financeiro é uma virada importante e vai na direção correta. Mas outros analistas lembram que existem muitas perguntas ainda sem respostas.
— Há dúvidas sobre o quão draconiano vai ser o ajuste. Pode não ser tão fácil, mas é o preço por um sistema melhor no futuro — afirma Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor do Banco Central.
Na sua visão, alguma turbulência já era esperada porque ninguém imaginava que o mundo sairia da crise sem dor. E é importante corrigir erros do passado, para afastar o risco de um novo Lehman Brothers.
Para o economista Roberto Padovani, estrategista para a América Latina do Banco WestLB do Brasil, a questão de fundo que deixa os mercados nervosos é o medo latente de que o crescimento seja menor no segundo semestre.
— Uma coisa é dizer que não há recessão, outra coisa é a força da recuperação.
Esta ainda é uma incógnita — afirma Padovani.
E o Brasil como fica no meio de tantas incertezas? O prognóstico de Padovani é que o país não será tão afetado pelas turbulências externas porque tem bancos sólidos, uma economia em crescimento, renda em alta, desemprego caindo e crédito voltando.
O fator de instabilidade é a política, o ano eleitoral, na opinião do economista.
Goldfajn destaca que o Brasil não está no epicentro dos problemas e continua muito bem posicionado no mundo. É um dos países que mais vai crescer em 2010, mas se as turbulências persistirem, acabará afetado pela crise.
Inconstitucional
A leitura feita por consultores da Câmara que acompanham de perto o Orçamento é que o presidente Lula atropelou não apenas o Tribunal de Contas da União, mas também a Constituição com o veto que liberou as quatro obras da Petrobras com suspeitas de irregularidades.
Ponderam que o parágrafo 2º do artigo 66 da Constituição determina que o veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. No caso, o veto incidiu sobre partes do anexo VI, que contém a lista de obras com indícios de irregularidades. Esse anexo, por sua vez, é parte de um inciso da lei orçamentária de 2010. O veto parcial de um dispositivo legal era permitido no passado, mas a regra foi mudada na Constituição de 88, para coibir abusos.
Dois pesos, duas medidas
Empresários do setor do petróleo preparam uma contraofensiva no Congresso para adequar a MP 472 às regiões Sul e Sudeste. A MP suspendeu a cobrança de PIS, Cofins e IPI para o setor nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Avaliam que se não houver igualdade, os parques petroquímicos do Sul e Sudeste serão prejudicados. Acham que, por trás da decisão, estaria a dificuldade da Petrobras para financiar a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e outra refinaria que pretende construir no Ceará. A estratégia para a MP, assinada sem alarde ou aviso prévio, causou desagrado.
Dinheiro de plástico
A Abecs, associação dos cartões de crédito, estima que o faturamento do setor em 2010 subirá 20%, um pouco acima da alta de 18% de 2009. O número de cartões emitidos deve crescer 11%, chegando a 628 milhões, e o número de transações deve subir 17%, saltando para 7,13 bilhões. O BC projeta crescimento do mercado de crédito de 20%. A indústria de cartões seguirá a tendência
Fila à vista
A queda de 20% na venda de caminhões em dezembro não sinaliza esfriamento, segundo o professor Paulo Fleury, do Instituto Ilos. Ele estima forte alta em fevereiro e março por conta da supersafra de soja. O temor, ao contrário, é que aconteça em 2010 o mesmo que em 2008, quando a fila para a compra de caminhões chegou a nove meses
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