FOLHA DE SÃO PAULO - 29/01/10
A nós, que não temos nada a ver com a história, caberia rir do ídolo esportivo que se deixou flagrar como um imbecil
COMO ANDO COM ideia fixa sobre o fenômeno da superexposição, serei forçada a testar sua paciência com minhas reflexões acerca do caso Tiger Woods. Ao final da leitura, você poderá considerar a hipótese de requerer indenização na Justiça por perda de tempo, e eu alerto que já conversei com meus advogados e que estou preparada para me trancar numa clínica para dependentes em assuntos concernentes à vida alheia ao primeiro oficial de Justiça que baixar na minha porta.
Advertência feita, vamos à vaca fria: Tiger Woods gosta de aproveitar as noites passadas longe de casa saindo com prostitutas. Descobrimos recentemente -com direito a ouvir na internet as gravações deixadas por ele na secretária eletrônica de uma recepcionista de Bel Air- que o melhor golfista do mundo não é aquele sujeito certinho que pensávamos que ele fosse. Não saberia citar estatísticas, mas desconfio que uma parcela significativa dos homens que conheço, ecologistas incluídos, sairia com um sem número de dançarinas se lhes fosse dada a oportunidade.
Já deu para notar que o advento do YouTube e de sites de fuxico tornou a vida dos voyeurs (ou seja, a nossa) muito mais interessante e que é apenas uma questão de tempo antes que todo mundo, do George Clooney ao cardeal arcebispo de Rangun, seja flagrado fazendo alguma coisa errada. Foi a vez do Tiger Woods; e a questão do seu adultério, que deveria ser resolvida entre ele, sua mulher e as agências de publicidade que venderam seu nome como garoto-propaganda, virou munição para a neocarolice da impostura.
A nós, público que não tem nada a ver com a história, caberia rir do fato de que o ídolo esportivo se deixou flagrar como um imbecil. Mas, não. Estes são os tempos da tirania da saúde e da higienização, esta é a época em que bastou chamar preto de negro para acreditar que o preconceito foi varrido do mapa. E assim nós nos achamos no direito de julgar Tiger, esquecendo do corno que metemos na cara-metade naquela festinha da firma ou na vez que ficamos de porre ou fumamos um baseado na frente da prole.
Tiger Woods é um überatleta. E sua habilidade nos campos de golfe pode ajudar a vender espuma de barbear, isotônico e sucrilhos. Mas isso não faz dele automaticamente um "exemplo para a juventude". Quem diz que faz é o mercado, não é mesmo? E você vai se deixar tutelar por esse "bully" dos infernos? Se a perseguição fosse apenas "Schaudenfreude", o ato de derivar prazer do sofrimento alheio, ainda vá lá. Recalque é um sentimento humano dos mais banais. Mas essa crítica que atribui superioridade moral a quem acusa já está começando a passar dos limites.
O presidente e fundador da Nike, Phil Knight, deu uma resposta corajosa à onda de hipocrisia. Ele se recusou a romper contrato com Kobe Bryant, no episódio em que o jogador da NBA foi acusado de estupro e admitiu adultério. Depois, fez vistas grossas quando Ronaldo foi pego com travestis. E, agora, reafirmou a parceria com Tiger. Segundo Knight, Woods sofreu ataques desproporcionais pelo que fez e tem "direito à privacidade". Estou quase jogando todos os meus tênis Puma e Adidas no lixo!
Advertência feita, vamos à vaca fria: Tiger Woods gosta de aproveitar as noites passadas longe de casa saindo com prostitutas. Descobrimos recentemente -com direito a ouvir na internet as gravações deixadas por ele na secretária eletrônica de uma recepcionista de Bel Air- que o melhor golfista do mundo não é aquele sujeito certinho que pensávamos que ele fosse. Não saberia citar estatísticas, mas desconfio que uma parcela significativa dos homens que conheço, ecologistas incluídos, sairia com um sem número de dançarinas se lhes fosse dada a oportunidade.
Já deu para notar que o advento do YouTube e de sites de fuxico tornou a vida dos voyeurs (ou seja, a nossa) muito mais interessante e que é apenas uma questão de tempo antes que todo mundo, do George Clooney ao cardeal arcebispo de Rangun, seja flagrado fazendo alguma coisa errada. Foi a vez do Tiger Woods; e a questão do seu adultério, que deveria ser resolvida entre ele, sua mulher e as agências de publicidade que venderam seu nome como garoto-propaganda, virou munição para a neocarolice da impostura.
A nós, público que não tem nada a ver com a história, caberia rir do fato de que o ídolo esportivo se deixou flagrar como um imbecil. Mas, não. Estes são os tempos da tirania da saúde e da higienização, esta é a época em que bastou chamar preto de negro para acreditar que o preconceito foi varrido do mapa. E assim nós nos achamos no direito de julgar Tiger, esquecendo do corno que metemos na cara-metade naquela festinha da firma ou na vez que ficamos de porre ou fumamos um baseado na frente da prole.
Tiger Woods é um überatleta. E sua habilidade nos campos de golfe pode ajudar a vender espuma de barbear, isotônico e sucrilhos. Mas isso não faz dele automaticamente um "exemplo para a juventude". Quem diz que faz é o mercado, não é mesmo? E você vai se deixar tutelar por esse "bully" dos infernos? Se a perseguição fosse apenas "Schaudenfreude", o ato de derivar prazer do sofrimento alheio, ainda vá lá. Recalque é um sentimento humano dos mais banais. Mas essa crítica que atribui superioridade moral a quem acusa já está começando a passar dos limites.
O presidente e fundador da Nike, Phil Knight, deu uma resposta corajosa à onda de hipocrisia. Ele se recusou a romper contrato com Kobe Bryant, no episódio em que o jogador da NBA foi acusado de estupro e admitiu adultério. Depois, fez vistas grossas quando Ronaldo foi pego com travestis. E, agora, reafirmou a parceria com Tiger. Segundo Knight, Woods sofreu ataques desproporcionais pelo que fez e tem "direito à privacidade". Estou quase jogando todos os meus tênis Puma e Adidas no lixo!
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