Hipertrofia do Executivo
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/01/10
BRASÍLIA - No Brasil, Lula "ignora", "atropela" e/ou "desafia" (verbos usados pelos jornais) o Tribunal de Contas da União e libera no Orçamento R$ 13,1 bi para quatro obras da Petrobras suspensas por irregularidades classificadas como graves pelo órgão.
Na Argentina, Cristina Kirchner ignora, atropela e/ou desafia a lei. Cismou que o Banco Central tinha de desviar reservas para o Tesouro abater a dívida externa, o presidente do BC, Martin Medrado, disse não, e ela não titubeou: demitiu-o por decreto, sem ouvir o Congresso.
A Justiça mandou reintegrá-lo, Cristina jogou a polícia contra ele e contra a Justiça. Na Venezuela, Hugo Chávez ignora, atropela e/ou desafia tudo e todos. Cria leis, subjuga o Legislativo e o Judiciário, suspende TVs que se recusam a lhe dar palanque eletrônico e decreta racionamento de água e de energia. Enquanto isso, arranja tempo e dinheiro para se imiscuir na mídia até do seu aliado da Nicarágua, Daniel Ortega.
É a hipertrofia do Executivo, deflagrada por Chávez, encampada agressivamente na Bolívia e no Equador, sofisticada na Argentina e sorrateiramente disseminada no Brasil, "terra de samba e pandeiro".
A América do Sul vive os tempos do "eu quero". Melhor fariam todos se repetissem Obama, que, em vez de abrir as baterias contra a Justiça, contra as leis, contra os tribunais de contas e contra a mídia que cobra e incomoda, mirou nos que geraram a crise mundial de 2009 e ainda conseguem tirar lucro dela: os bancos.
Chávez fecha e nacionaliza bancos, mas Obama articula com o Congresso e com a opinião pública uma regulamentação que limite os abusos e os riscos do sistema e seus reflexos no país, nas instituições, nos cidadãos e no mundo. Isso, sim, é justo e democrático.
PS - A hipertensão de Lula é um sintoma de que ele está esgotado, ultrapassando todos os limites.
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