Linha de frente
SILVIO NAVARRO(interino)
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/01/10
Depois de ouvir os ministros Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) e Nelson Jobim (Defesa) nos próximos dias sobre o texto do terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos, o presidente Lula deverá indicar integrantes do alto escalão para compor o grupo encarregado de elaborar o projeto de lei para instituir a comissão da verdade, pivô da crise com militares. “Até para depois ninguém dizer que não leu o documento”, diz um auxiliar do presidente.
Como o decreto prevê que o grupo seja chefiado pela Casa Civil, o nome mais forte em circulação no Palácio do Planalto para comandar o debate é o de Erenice Guerra, secretária-executiva da pasta e desde sempre braço direito da ministra Dilma Rousseff.
Zíper - O vice-presidente José Alencar foi o único a mencionar a discórdia sobre o programa de direitos humanos ontem na reunião da coordenação do governo. Falou em tom elogioso a Vanncuhi. Mas Lula cortou o assunto.
Gaveta - A polêmica dos direitos humanos também bate à porta do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Desde fevereiro do ano passado, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pressiona para que ele emita um parecer sobre uma ação que questiona a amplitude da Lei de Anistia, de 1979. A entidade reclama que a tortura seja considerada crime sem prescrição.
Ultimato - Presidente da OAB, Cezar Britto aproveita a discussão para levar o caso ao Conselho Nacional do Ministério Público em fevereiro. Depois de analisado pela Procuradoria, que alega não ter prazo para a entrega, a ação segue para julgamento no Supremo Tribunal Federal.
Na pele - Antecessor de Paulo Vanucchi no ministério, o petista Nilmário Miranda afirma: “Não existe revanchismo no debate nem ele pode ser partidarizado. Os militares hoje têm sentimento nacional e público, mas são contra a revisão histórica”.
Escola - Na reunião de coordenação, Lula comemorou o fato de, segundo ele, ministros terem adquirido “papel relevante” no exterior. Citou Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Diplomacia - Apesar do propalado crescimento da popularidade internacional de Lula, a contabilidade do Planalto registra 32 visitas de chefes de Estado ou de governo ao Brasil no ano passado. Em 2003, foram 40.
Check-in - No ano em que estourou o escândalo da farra aérea na Câmara, a economia dos deputados com passagens foi de R$ 32, 4 milhões em relação aos gastos de 2008.
Em marcha 1 - As centrais sindicais darão início nos próximos dias à nova rodada de negociações com empresários para tentar retomar a proposta de redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. Se nada acontecer até o Carnaval, prometem uma onda de paralisações.
Em marcha 2 - Os sindicalistas também elaboraram um calendário de mobilizações que começará tão logo o Congresso volte do recesso. A ideia é aproveitar o apelo do ano eleitoral para tentar emplacar alguns pleitos.
Ninho 1 - A cúpula tucana, FHC inclusive, voltou a se reunir com o governador Aécio Neves (MG) ontem em São Paulo. Mas, antes que a palavra “chapa pura” fosse pronunciada, o mineiro repetiu que sua prioridade, por enquanto, é cuidar da eleição do vice, Antonio Anastasia.
Ninho 2 - No encontro, Tasso Jereissati (CE) afirmou que quer disputar a reeleição ao Senado a despeito de pressões para concorrer ao governo. Os tucanos também debateram o quadro no Paraná, cujo diretório estadual dará início, na segunda, ao processo de escolha do candidato: o prefeito de Curitiba, Beto Richa, ou o senador Alvaro Dias.
Outro lado - O governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) nega que tenha pressionado o vice, Leonel Pavan (PSDB), a apresentar logo sua defesa contra denúncias de corrupção.
Tiroteio
A Dilma já aprendeu com o Lula e quando resolver comentar o programa de direitos humanos vai dizer que não sabia de nada.
Do senador SERGIO GUERRA (PE), presidente do PSDB, sobre o silêncio da ministra da Casa Civil diante da polêmica causada pelo terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos.
Contraponto
O que é isso, companheira?
Ao chegar a Copenhague para a conferência do clima em dezembro, a candidata verde Marina Silva (AC) foi recebida por uma comitiva e levada em seguida ao hotel para descansar. Presidente do PV do Rio, o vereador Alfredo Sirkis não se conteve diante da simplicidade dos quartos, cuja mobília se resumia à cama, com um par de cadeiras e uma mesinha:
- Isso aqui parece mais um aparelho da época da clandestinidade! -, brincou Sirkis.
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