SEM ALARMISMO , é preciso olhar com cuidado para a balança comercial brasileira. Seja pela crise mundial, seja por problemas internos, algumas tendências preocupam. A principal delas é que o Brasil vai retornando, ano a ano, à velha condição de exportador de produtos primários. Dez anos atrás, a participação desses itens na pauta de exportações representava apenas 23%. Em 2007, esse peso já havia subido para 30% e, no ano passado, chegou a 42%, praticamente empatando com os manufaturados. Nessa matéria, houve um retrocesso para o nível de 30 anos atrás. A dependência crescente de produtos básicos não é saudável. Primeiro porque, ao exportar essas mercadorias, exportam-se também empregos -quando as matérias-primas são processadas no país, há mais investimento produtivo, mais ocupação de mão de obra e maior agregação de valor ao artigo exportado. Segundo porque os preços de itens básicos, principalmente os agrícolas, sofrem grandes oscilações no mercado externo, movimentos que podem levar produtores do paraíso ao inferno (e vice-versa) de uma hora para outra. Os manufaturados têm preços mais estáveis. Vivemos hoje, apesar da crise mundial, um momento de valorização das commodities. Segundo o índice da "The Economist", a alta média geral atingiu 32% nos últimos 12 meses: as commodities industriais subiram 72% e as agrícolas, 11%. Em 2009, essa tendência garantiu ainda um bom desempenho à balança comercial brasileira, que teve superavit de US$ 24,6 bilhões. Com a atual concentração de exportações em produtos básicos, porém, uma eventual derrubada de preços das commodities terá graves consequências para as contas externas. Outra tendência preocupante é a perda de posição no mercado americano. Em 2009, as exportações brasileiras para os EUA tiveram queda impressionante, de 42% em relação a 2008. Grande parte dessa queda se deve, obviamente, à crise de demanda do mercado norte-americano. Mas uma parte do estrago foi feita pela valorização do real em relação ao dólar, que tornou o produto brasileiro mais caro no mercado americano e abriu espaço para os concorrentes, na maioria chineses. Uma ação essencial em 2010 é recuperar mercados perdidos, em especial o americano. Por menor que seja, haverá recuperação econômica nos EUA e seria tolice deixar de pegar carona nessa tendência. Mesmo com a crise, os EUA ainda importaram US$ 1,5 trilhão em 2009 e vão aumentar esse valor em 2010. Pela primeira vez na história, no ano passado a China foi o maior comprador de produtos brasileiros, com US$ 19,9 bilhões -os EUA compraram só US$ 15,7 bilhões. A diversificação de mercados é saudável. Mas os chineses são grandes importadores de commodities e o Brasil precisa centrar fogo na reconquista de mercados de manufaturas, como EUA e América Latina. O próprio secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, citou algumas medidas indispensáveis no setor: desoneração das exportações para evitar o acúmulo de créditos estaduais dos exportadores, a ampliação do drawback e a adoção de política comercial mais agressiva. Isso é importante, mas também é essencial olhar para o câmbio. Após perder muito dinheiro com a valorização do real, alguns setores, como os de calçados, têxteis e móveis, perderam totalmente o apetite exportador. Voltaram-se para o mercado interno, que, felizmente, vai bem. Todavia, não é recomendável colocar todos os ovos na mesma cesta.
BENJAMIN STEINBRUCH, 56, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) |
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