domingo, janeiro 10, 2010

ELIO GASPARI

A autora americana e o gaúcho deportado

O GLOBO - 10/01/10



Elizabeth Gilbert ("Comer, Rezar, Amar"...) achou um novo livro na desdita imposta a "Felipe", o seu amor


SAIU NOS ESTADOS UNIDOS na semana passada e chegará às livrarias brasileiras no segundo semestre o novo livro de Elizabeth Gilbert, "Commited" ("Comprometida - Uma Descrente Faz as Pazes com o Casamento"). Seu último trabalho, "Comer, Rezar, Amar", vendeu mais de 5 milhões de exemplares no mundo e está há 90 semanas na lista dos mais vendidos no Brasil. Depois da autora, o principal personagem de "Comprometida" é o gaúcho José Nunes, que ela chama de "Felipe". Para a plateia de "Comer, Rezar..." é um personagem conhecido, pois a senhora apaixonou-se por ele em Bali, nas últimas páginas da narrativa anterior.
Felipe nasceu em Porto Alegre, trabalha desde menino, ganhou o mundo com um título de campeão de ginástica e o dinheiro que guardara vendendo ferro-velho e ossos de animais para uma fábrica de cola. Estabeleceu-se na Austrália, onde casou-se com uma diplomata, formou uma família e montou um pequeno negócio. É um homem discreto e não gosta de aparecer.
No seu novo livro, Elizabeth Gilbert contou como uma paixão madura (ela tem 40 anos, e ele, 57) destravou o horror de um casal à instituição do matrimônio. Sobreviventes de dois divórcios dilacerantes, os dois viviam entre a Ásia e e Filadélfia. Felipe é um modesto comerciante de pedras preciosas, com negócios nos Estados Unidos. Ela era uma escritora de pouco sucesso, com três livros publicados e um projeto no laptop. Foram apresentados em Bali pela cearense Armenia Nercessian de Oliveira, uma batalhadora dos direitos humanos com passagens pela Bósnia e El Salvador, que hoje dirige a Novica.com, uma rede mundial de apoio a artistas e artesãos.
O céu desabou sobre a vida do casal no início de 2006, no aeroporto de Dallas, quando voltaram de uma viagem e "Felipe" foi detido pela imigração americana. O policial do Homeland Security decidiu que seu visto não lhe permitia entrar de novo no país. "Felipe" ficou seis horas numa sala de interrogatórios, foi algemado, encarcerado por uma noite e deportado.
O que se podia fazer? "Só se vocês casarem", respondeu o policial.
Os dois pensaram em resolver o problema no aeroporto, mas havia uma papelada no caminho. Para se casar com um estrangeiro, Elizabeth deveria passar pelo crivo do FBI. (Exigência criada para prevenir o tráfico de mulheres por cafetões americanos.) "Felipe" teve que contar sua vida ao consulado de Sydney: o que estava fazendo na península do Sinai em 1975? (Correndo atrás de uma namorada israelense de 17 anos.)
Durante os sete meses em que vagaram pela Ásia esperando o andamento dos papéis, ela buscava um assunto para seu próximo livro. O casal vivia numa casa modesta em Bali e hospedava-se em hotéis baratos do Vietnã e do Laos. "Felipe" teve seus negócios mutilados, e a vida de Elizabeth foi dura a ponto de ela ter detestado o Camboja, numa viagem em que tudo deu errado, até uma tentativa de doar sangue.
Mss havia um conto de fadas em curso. Enquanto o casal ralava, "Comer, Rezar, Amar" estourava nas paradas. Em janeiro de 2007, a escritora pouco conhecida transformou-se numa autora milionária, editada em 26 idiomas e listada entre as mulheres mais influentes do mundo. De quebra, ganhara a ideia para seu próximo livro. Não é à toa que na lista de agradecimentos do livro está Tom, o policial do Homeland Security.
"Comprometida" conta como uma desgraça -a deportação de "Felipe"- obrigou-os ao matrimônio. Elizabeth Gilbert foi fundo na reflexão e na pesquisa sobre o assunto. Ela viaja pelos séculos e pelos continentes mostrando preconceitos, mentiras e virtudes da instituição. Noves fora a questão da maternidade, com a qual se atrapalha (ela não teve filhos e Felipe tem dois, adultos), "Comprometida" é um presente para as pessoas que refletem sobre casamentos futuros, presentes e até passados. Ela não oferece soluções. Limita-se a provar que o casamento é melhor negócio para os homens. Mesmo assim, casou-se.

ADIEU
Fernando Gabeira desistiu de sua candidatura ao governo do Rio talvez sem saber que se chegou a cozinhar uma proposta irrecusável. Ele entraria na disputa. Ganhando, levava o Rio. Perdendo, caso José Serra vencesse a eleição presidencial, seria nomeado embaixador em Paris.

RIDI, ARRUDA
José Roberto Arruda voltou a sorrir, mas ainda não está livre de ser mandado à cadeia. Está no
Supremo Tribunal Federal o pedido do procurador-geral para que seja declarado inconstitucional o artigo da Constituição de Brasília que dá poderes à Câmara Legislativa para blindar o governador. Se o STF aceitar o pedido (o que parece provável), Arruda cairá na jurisdição do STJ. No interesse da preservação de provas, o tribunal poderá deferir um pedido de prisão preventiva. Arruda pode parar de sorrir ainda em 2010.

KENNEDY NO COPA
As memórias do senador Ted Kennedy informam que em maio de 1941 seu irmão John esteve no Brasil. Juntou-se à mãe e a uma irmã que desciam de um cruzeiro caribenho. Kennedy hospedou-se no Copacabana Palace, em cujo papel de carta escreveu uma nota ao adido militar americano, mandando-lhe um livro. Há alguns anos esse papel circulou no mercado de autógrafos. Deve valer uns US$ 15 mil. Um cartão de Natal de Lee Oswald, seu assassino, valeu US$ 6.500.

BOA VAGA
Se José Serra for o próximo presidente, poderá ser presenteado com o preenchimento de uma vaga inesperada de ministro do Supremo.

LULA E O MAR
Inconfidência de um barqueiro que acompanhou uma pescaria de Lula, há tempos:
Antes de a gente sair, um oficial da Presidência me procurou e disse para dar um jeito: Marisa, a mulher de Lula, precisava conseguir mais peixes que ele. Não tive dúvida, na hora de botar a sardinha viva no anzol dele, eu apertava a cabeça da bichinha. Morta, a isca chamava menos peixes. O barqueiro surpreendeu-se com o desempenho de Lula, que perdeu a competição, mas teve um desempenho superior ao previsto.

COSAN & SENZALA
O doutor Marcos Lutz, presidente do grupo Cosan, o maior produtor de açúcar e álcool do Brasil, precisa pensar na vida. Ele tem uma marca a zelar. Afinal, sua empresa está na lista limpa da Bolsa de Nova York e na carteira de investimentos do banqueiro Armínio Fraga.
Faz tempo que o Cosan é acusado de se beneficiar das condições degradantes de trabalho impostas aos trabalhadores do corte da cana. Há poucas semanas, o grupo foi incluído pelo Ministério do Trabalho numa lista suja, respondeu com uma nota oficial ao estilo do Palácio de Buckingham e fechou-se em copas. Por conta da denúncia do ministério, o BNDES congelou preventivamente pelo menos R$ 635 milhões de créditos concedidos à empresa. Nova nota de lordes. Ela pode botar a cara de seus diretores na vitrine. Se a marca do Cosan pegar a nódoa de Casa-Grande-no-andar-de-cima & Senzala-no-andar-de-baixo, de nada adiantará botar os lordes na rua. Na sexta-feira, uma liminar tirou o Cosan da lista, mas o processo continua. O Cosan fatura R$ 4 bilhões por ano e se orgulha de gerar 40 mil empregos.

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