Na quarta-feira passada, em Jardim Mirna, zona sul de São Paulo, um agente e um carcereiro da Polícia Civil, fora do horário de serviço, tomaram um Gol emprestado de um informante e sequestraram dois traficantes de drogas, ambos de 19 anos, para extorqui-los. Os jovens portavam grande quantidade de maconha, cocaína e crack. Metros depois, o carro foi cercado por quatro amigos dos traficantes, em duas motos, que tentaram libertá-los, atirando contra os policiais. O carcereiro reagiu e disparou três vezes. O agente não teve tempo. Das mais de 20 balas que acertaram o Gol, várias atingiram o policial, que morreu ali mesmo. A cena se deu em frente a um colégio, na hora da saída dos alunos. No tiroteio, um estudante de 17 anos levou uma bala perdida na cabeça e também morreu. Duas de suas colegas foram feridas, uma na perna, outra na barriga. Essa ocorrência -apenas uma entre outras que a mídia publica com certo tédio, talvez porque ninguém saiba onde fica Jardim Mirna- comporta uma quantidade de agravantes a fazer pensar. É como se fosse uma suma do que deve acontecer com regularidade no submundo, mas tão distante de nossos olhos que não tomamos conhecimento. Vamos ler de novo. Policiais fora de serviço cercam e capturam traficantes, não para prendê-los, mas para extorqui-los -quem é o bandido? Os traficantes são muito jovens; os amigos que acorrem em sua defesa também. Não faltam carros, motos e armas no pedaço -todo mundo está bem equipado. O tiroteio se dá perto de uma escola e, como sói, na hora de saída dos alunos-um estudante morre e duas saem feridas. Se fosse cinema ou novela, o roteirista se envergonharia de juntar tantos clichês numa sequência. Mas a realidade é grossa, não tem essa sofisticação. |
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