O ESTADO DE SÃO PAULO - 25/11/09
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, está mandando que a tropa se mexa: "A crise passou; agora é investir", disse ontem.
A ideia é preparar todo o setor produtivo (e não só a indústria) para dar conta da pressão de consumo com que todos já estão contando neste resto de ano e provavelmente ao longo do próximo.
A palavra de ordem de Coutinho é uma demonstração de que a turma do epitáfio da indústria, formada por certos empresários e analistas econômicos, perde seu discurso. Não há nem a desindustrialização, nem o sucateamento, nem o desmonte do setor produtivo tão alardeados. Enfim, apesar dos juros escorchantes na ponta do crédito, da excessiva valorização do real, da carga tributária insuportável, da infraestrutura que não dá conta do recado - enfim, apesar do enorme custo Brasil -, a indústria está bombando e a hora é de investir.
Há razões fortes para agir assim olhando-se para o que acontece na economia brasileira. O crédito já está acima de 45% do PIB e cresce a 17% ao ano; cada vez mais gente aumenta seu padrão de consumo; o País demonstra que já não está tão vulnerável aos chacoalhões do passado e passa quase incólume pelas crises. E há o pré-sal avisando o empresário que dormir no ponto significa perder negócios; a China e o resto da Ásia clamando por mais matérias-primas e alimentos; e tudo o que vem com a Copa de 2014, com a Olimpíada de 2016 e sabe-se lá mais o quê.
Mas não se pode varrer os problemas para debaixo do tapete. Neste final de mandato, o governo Lula está descuidando do equilíbrio das contas públicas. As despesas com o funcionalismo federal cresceram entre 12% e 62% nos últimos sete anos, enquanto o investimento público avança devagar-quase-parando. Pode parecer cedo para acionar os alarmes de um desastre fiscal, mas um vazamento de material radioativo não dá avisos prévios.
Mais que tudo, o governo dá sinais dúbios sobre o tratamento a ser dado ao capital estrangeiro, como esta coluna vem repetindo. Não pode dispensar os dólares que vêm de fora, mas se aflige com os efeitos colaterais de sua entrada sobre o câmbio e, lá pelas tantas, tenta afugentá-los com cobranças de pedágio (IOF).
Da economia global os sinais são ainda mais contraditórios. Os analistas tentam puxar pelo lado bom, que é a recuperação da atividade econômica, como o avanço do PIB dos países ricos no terceiro trimestre parece indicar. Mas os elevados índices de desemprego que ameaçam se aprofundar indicam que a virada da crise é frágil, ao contrário do que diz o presidente do BNDES.
É o que reforça a percepção de que é ainda o despejo de dólares pelos Tesouros e bancos centrais dos países ricos, da ordem de US$ 10 trilhões, que impede que a situação se agrave. E, no entanto, de todas as partes sobrevêm denúncias de que essa bolada vai inflando novas bolhas que um dia devem estourar e mergulhar a economia mundial de volta à crise. E é por isso que os Tesouros não estão forçando a devolução dos recursos, o que, por sua vez, empurra para cima o rombo orçamentário e a dívida dos países desenvolvidos. Também é por isso que os maiores bancos centrais do mundo ainda não começaram a puxar pelos juros.
A hora é, sim, de apostar no Brasil, mas sem perder de vista os riscos aqui e lá fora.
Confira
Aí está o ritmo da entrada de capitais. O Banco Central ignora a capitalização da Petrobrás, prevista para 2010. Há meses projeta entrada de apenas US$ 15 bilhões em ações. E só a Petrobrás vai exigir US$ 25 bilhões.
A ideia é preparar todo o setor produtivo (e não só a indústria) para dar conta da pressão de consumo com que todos já estão contando neste resto de ano e provavelmente ao longo do próximo.
A palavra de ordem de Coutinho é uma demonstração de que a turma do epitáfio da indústria, formada por certos empresários e analistas econômicos, perde seu discurso. Não há nem a desindustrialização, nem o sucateamento, nem o desmonte do setor produtivo tão alardeados. Enfim, apesar dos juros escorchantes na ponta do crédito, da excessiva valorização do real, da carga tributária insuportável, da infraestrutura que não dá conta do recado - enfim, apesar do enorme custo Brasil -, a indústria está bombando e a hora é de investir.
Há razões fortes para agir assim olhando-se para o que acontece na economia brasileira. O crédito já está acima de 45% do PIB e cresce a 17% ao ano; cada vez mais gente aumenta seu padrão de consumo; o País demonstra que já não está tão vulnerável aos chacoalhões do passado e passa quase incólume pelas crises. E há o pré-sal avisando o empresário que dormir no ponto significa perder negócios; a China e o resto da Ásia clamando por mais matérias-primas e alimentos; e tudo o que vem com a Copa de 2014, com a Olimpíada de 2016 e sabe-se lá mais o quê.
Mas não se pode varrer os problemas para debaixo do tapete. Neste final de mandato, o governo Lula está descuidando do equilíbrio das contas públicas. As despesas com o funcionalismo federal cresceram entre 12% e 62% nos últimos sete anos, enquanto o investimento público avança devagar-quase-parando. Pode parecer cedo para acionar os alarmes de um desastre fiscal, mas um vazamento de material radioativo não dá avisos prévios.
Mais que tudo, o governo dá sinais dúbios sobre o tratamento a ser dado ao capital estrangeiro, como esta coluna vem repetindo. Não pode dispensar os dólares que vêm de fora, mas se aflige com os efeitos colaterais de sua entrada sobre o câmbio e, lá pelas tantas, tenta afugentá-los com cobranças de pedágio (IOF).
Da economia global os sinais são ainda mais contraditórios. Os analistas tentam puxar pelo lado bom, que é a recuperação da atividade econômica, como o avanço do PIB dos países ricos no terceiro trimestre parece indicar. Mas os elevados índices de desemprego que ameaçam se aprofundar indicam que a virada da crise é frágil, ao contrário do que diz o presidente do BNDES.
É o que reforça a percepção de que é ainda o despejo de dólares pelos Tesouros e bancos centrais dos países ricos, da ordem de US$ 10 trilhões, que impede que a situação se agrave. E, no entanto, de todas as partes sobrevêm denúncias de que essa bolada vai inflando novas bolhas que um dia devem estourar e mergulhar a economia mundial de volta à crise. E é por isso que os Tesouros não estão forçando a devolução dos recursos, o que, por sua vez, empurra para cima o rombo orçamentário e a dívida dos países desenvolvidos. Também é por isso que os maiores bancos centrais do mundo ainda não começaram a puxar pelos juros.
A hora é, sim, de apostar no Brasil, mas sem perder de vista os riscos aqui e lá fora.
Confira
Aí está o ritmo da entrada de capitais. O Banco Central ignora a capitalização da Petrobrás, prevista para 2010. Há meses projeta entrada de apenas US$ 15 bilhões em ações. E só a Petrobrás vai exigir US$ 25 bilhões.
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