Medo das duas linhas de quatro
JORNAL DO BRASIL - 18/10/09
O abraço e o choro convulsivo, depois do jogo, entre Maradona e Bilar do e as palavras de Ma radona, negando que ele e Bilardo não conversavam, contrariam o que dizia a imprensa argentina e o que repetimos no Brasil. Ou foi uma reconciliação, uma demonstração de que os dois podem ainda formar uma boa dupla no Mundial? Conversar sobre detalhes burocráticos é também bem diferente que conversar sobre detalhes técnicos e táticos.
Será que a maioria dos argentinos que queria a saída de Ma radona vai agora, em mais uma atitude apaixonada, supersticiosa e mística, pedir a permanência do técnico e dizer que o sofrimento para conseguir a vaga foi o ruído, o instante mágico, que muda uma vida e que pode fazer a Argentina ganhar o Mundial?
Torci para a Argentina se classificar e vou torcer para Maradona ser o técnico na Copa. Não sei o que é pior, a sincera grosseria de Maradona ou o falso bom comportamento de tantos. Se Ma radona aprender com os erros e conversar mais com Bilardo, poderá ser ainda um bom técnico na Copa. Além disso, os treinadores não têm a enorme importância que tantos acham que eles têm.
Contra o Uruguai, a Argentina jogou com duas linhas de quatro, recuadas, além de dois atacantes. É a melhor maneira de se atuar defensivamente e no contra-ataque. Será que Maradona conversou com Bilardo ou com Bianchi? Só não funcionou bem o contra-ataque.
Não há também nenhum segredo para armar essa estratégia. Qualquer treinador pode desenhá-la em uma prancheta.
As duas linhas de quatro se tornaram sinônimo de retranca. Não é bem assim. Se as duas li nhas avançam, o time fica ofensivo. Os meias, pelos lados, passam a ser atacantes, pontas, e os armadores pelo meio (volantes) se aproximam dos dois atacantes. A maioria das seleções da Europa atua dessa forma.
No Brasil, só os times pequenos, quando querem fazer uma retranca, atuam com duas linhas de quatro. Os grandes não fazem isso porque perderiam as duas principais características táticas do futebol brasileiro, que são o meia de ligação e o avanço dos laterais. A seleção e os times brasileiros não jogam com duas linhas de quatro e, ainda, têm medo e não sabem como enfrentá-las.
Jogar com laterais, que marcam e apoiam, ou com jogadores pelos lados, que atacam e defendem, só é possível no futebol de hoje, de muita velocidade e preparo físico. A cada dia, são mais valorizados os jogadores táticos, que correm muito e jogam pouco. São os craques da prancheta.
Contra a Venezuela, o Brasil teve novamente grandes dificuldades para enfrentar uma equipe defensiva e com duas linhas de quatro. A seleção não sabe marcar por pressão, troca poucos passes e não há um excepcional armador. O time joga bem contra adversários do mesmo nível. Aí, é o Brasil que coloca dois marcadores na frente dos zagueiros (Gilberto Silva e Felipe Melo) para contra-atacar.
Kaká, por seu enorme talento e estilo, foi quem definiu a maneira de jogar da seleção ou é a falta de um craque no meio de campo que faz o time atuar melhor no contra-ataque?
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