De vira-latas e emoções
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/10/09
SÃO PAULO - Por muito que esteja ficando cachorro grande, o Brasil não consegue livrar-se do complexo de vira-lata, como dizia Nelson Rodrigues, talvez o maior escafandrista da alma brasileira.
Prova mais recente: a deferência com que foram tratados nesta semana dois dos consultores da campanha de Barack Obama, como se tivéssemos algo a aprender em matéria de marketing político. Quero dizer, sempre se aprende algo com alguém, mas, nessa matéria, somos é mestres, não alunos.
Basta lembrar que há 60 anos, antes que existisse marketing (político ou comercial), já tínhamos um Jânio Quadros a espalhar caspa pelo paletó para fazer-se "do povo". E era um campeão de votos.
Eis que agora ouvimos Jason Ralston, cérebro da publicidade de Obama na campanha, dizer o seguinte: "É sempre preferível ter o apoio de um líder popular a não tê-lo". Brilhante. Ralston ainda acrescentou: "A popularidade de um líder não é transferível para outro candidato".
Sei, não. Orestes Quércia elegeu um virgem em disputas eleitorais, Luiz Antônio Fleury Filho, assim como Paulo Maluf o fez com outro virgem, Celso Pitta.
Pulemos agora para Ben Self, o rapaz da campanha on-line de Obama, para quem "emoção e doação estão definitivamente ligados". Só se foi na campanha de Obama. No resto do mundo, doação está ligada, definitivamente, a intere$ses bem concretos. Podemos ser vira-latas, mas ingênuos não somos.
Ah, por falar em emoção, vou sentir muito falta de Lula na campanha de 2010, pelo menos como candidato. Para o bem e para o mal, Lula põe a gota de emoção em campanhas que vão se pasteurizando crescentemente, inclusive as do PT.
A emoção agora é "by appointment" dos Duda Mendonça da vida. Muita gente dirá que estamos amadurecendo. Talvez. Mas sem emoção não há solução.
Nenhum comentário:
Postar um comentário