Economia e arte
O GLOBO - 01/10/09
O romancista e ensaísta inglês John Lanchester tem escrito sobre economia e arte, mas comparando as rupturas na economia mundial que deram na crise atual com rupturas na história da arte. Assim, ele diz que a revogação (no governo Clinton) da lei promulgada depois da Grande Depressão que proibia bancos de serem financeiras teve o mesmo efeito na economia que o pós-moderno teve na literatura. Sem as regras antigas, tudo era permitido, e atividade bancária tradicional se misturava com o aventureirismo da especulação financeira como, na literatura pós-moderna, os estilos se misturam e a fronteira entre comédia e tragédia se dilui. Para Lanchester, a criação dos derivativos, ou da possibilidade de dinheiro produzir dinheiro numa escala nunca antes imaginada, e sem qualquer relação com indústria, comércio ou qualquer outro tipo de negócio concreto, equivale ao advento do abstracionismo na arte. Os derivativos são desassociados da realidade física do mesmo modo que um quadro abstrato é forma representando nada, ou só representando a si mesma.
Não sei que revolução artística Lanchester evocaria para comparar com casos estranhos como o da China, onde o comunismo promove o maior sucesso capitalista do momento, ou do Brasil, onde quem mais gosta do governo de origem popular são os banqueiros. Provavelmente o surrealismo.
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