Depois do carnaval
Nos próximos quatro meses quase tudo o que os políticos e os partidos falarem sobre a eleição presidencial de 2010 será produto dos respectivos desejos, tentativa de despiste do adversário ou fruto de mera especulação. Só no fim de fevereiro, início de março é que começa a ser mais seguro comprar as declarações de suas excelências pelo valor que são vendidas por seus autores.
Não é por acaso que o governador de São Paulo – hoje o candidato a presidente do PSDB –, José Serra, resiste a todas as pressões, insiste em marcar aquela data para o anúncio da candidatura e ainda se dá a prudência de acrescentar: “Se candidatura houver”.
Tampouco é a toa que o presidente Luiz Inácio da Silva avisou ao provável candidato do PSB, deputado Ciro Gomes, que em fevereiro daria a ele uma resposta sobre a possibilidade de apoiar duas candidaturas presidenciais – a de Ciro e a de Dilma Rousseff.
Isso a preço de hoje, pois a lógica ainda aconselha a uma certa desconfiança acerca dos planos de Lula, apesar (ou até por causa) da assertividade das respostas do mundo oficial quanto à confiança do presidente na eleição de Dilma.
Portanto a mais recente novidade, sobre a hipótese de o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ser vice na chapa de Dilma pode se juntar às versões segundo as quais o governador de São Paulo teria a tendência a concorrer à reeleição por achar “muito difícil” bater Dilma na disputa presidencial; Lula torce pela vitória de Serra; o PT acha Aécio Neves um candidato quase imbatível, do mesmo jeito que em 2006 diziam preferir Serra a Geraldo Alckmin como oponente; Ciro Gomes seria vice na chapa da ministra da Casa Civil; Antonio Palocci na última hora entraria em cena; Dilma seria vice de Ciro; Fernando Henrique Cardoso seria absolutamente contrário à chapa “puro-sangue” no PSDB; o PMDB estaria fechado, sem retorno possível, com a candidatura de Dilma.
Nada, nesta altura, está fechado: ao contrário, está tudo em aberto no aguardo da passagem do tempo, do efeito das pesquisas, da negociação dos acertos regionais, das tentativas de conquistas de aliados, das ofertas, das reações aos balões de ensaio soltos no ar, dos prazos legais, dos humores, de todas as circunstâncias, notadamente as ligadas à redução de poder de fato do presidente em fim de mandato. Isso se ocorrer tudo dentro do institucionalmente normal no processo.
Ao fim de fevereiro faltará um mês para que os candidatos deixem os postos que ocupam na máquina federal. Só aí já se poderá ter uma boa alteração no cenário. Uma coisa, por exemplo, são as declarações feitas por um ministro no exercício de suas funções de subordinado direto do presidente sem a menor intenção de deixar o cargo antes do previsto. Outra bem diferente – ou até não – serão suas reais intenções na condição de candidato em busca de votos e do melhor espaço no Estado onde tentará conquistá-los.
O tratamento que se dá à questão da chapa pura Serra-Aécio no PSDB hoje é um, quando o governador de Minas é, para todos os efeitos, pré-candidato presidencial e, para efeito efetivo, o guardião dos votos do maior segundo colégio eleitoral do país. Mas só poderá ser outro quando abril se aproximar e, assim, vencer a data de Aécio Neves deixar o Palácio Tiradentes – seis meses antes da eleição –, anunciando seu destino político.
Bem como será só a partir daí é que se poderá pôr à prova a firmeza do compromisso firmado entre PT e PMDB para a composição da chapa presidencial.
Roncos da reação
O líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, é integrante da tropa contrária à emenda constitucional, de iniciativa popular, propondo o veto a candidatos condenados em primeira instância por homicídio, estupro, tráfico de drogas, racismo, uso da máquina e desvio de verbas públicas.
Para ele, a emenda pode ser comparada à lei do “velho Oeste, quando se pegava um suposto ladrão de galinhas e o levavam à forca”. Um sofisma, pois lá era rito sumário. Cá, há o inquérito policial, a denúncia do Ministério Público e a condenação do juiz.
Telhado
Se na próxima eleição quiserem levantar a bandeira da ética, dos bons costumes da lisura dos homens e das mulheres na política, os tucanos terão de trabalhar para explicar o passivo de processos judiciais e inquéritos policiais de José Camilo Zito, prefeito de Caxias, presidente regional do PSDB e, hoje, em alta cotação para disputar o governo do Rio de Janeiro em 2010.
De Gabeira a Zito é uma involução e tanto.
25ª hora
É hoje o último dia para filiação – incluídas as transferências de uma legenda para outra – partidária para quem quiser ser candidato a presidente, governador, senador ou deputado no ano que vem.
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