Tiros no peito
DE SÃO PAULO - 31/08/09
A primeira vez que fiquei sabendo de caso parecido foi em Portugal, em 1974, onde eu morava, no apogeu da Revolução dos Cravos. Uma briga entre duas sólidas vendedoras de peixe por causa de um homem, na feira de Lisboa, fez com que uma desse um tiro na outra, à queima-roupa. O impacto jogou a mulher quase um metro para trás, mas ela não morreu. Um jornal deu: “A trabalhadora da indústria piscatória foi salva pelas barbatanas do seu sutiã, as quais lhe serviram de couraça”.
Quando digo que parece coisa de filme é porque, no cinema mudo, os faroestes americanos usaram muito essa ideia. No começo, era o xerife que se salvava de morte certa porque a bala que lhe era destinada pelo bandido ricocheteava na estrela que ele trazia pregada na camisa.
Depois, Hollywood radicalizou e criou a sequência em que o pastor da cidade, amigo do mocinho, também era atingido no coração por uma bala durante o tiroteio final. Mas não morria, porque era salvo pela Bíblia que trazia no bolso interno do paletó. A ideia era boa, mas o cinema abusou dela de tal jeito que teve de abandoná-la – ninguém mais a levava a sério.
Woody Allen propôs uma alternativa original num dos seus textos para a “New Yorker”. Ele se imagina parado numa esquina quando passa um pastor e lhe atira uma Bíblia. Esta o atinge em cheio no peito. Mas Woody não morre, porque é salvo por uma bala que trazia no bolso da jaqueta.
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