SÃO PAULO - O leitor Marcio Bandeira de Azevedo, um dos indignados com o lodaçal político, importa da economia a expressão "voo de galinha" para dizer: "Chega de voo de galinha na política". Ajuda-memória: "voo de galinha" designa aqueles muitos períodos em que a economia brasileira tinha voos curtíssimos, como o da galinha, para ser logo abatida em geral por crises de confiança, interna ou externa. Parêntesis: não é o caso do recuo econômico dos dois trimestres mais recentes, causado unicamente por fatores externos. Fecho parêntesis e volto a Marcio Bandeira de Azevedo: "A economia realmente parece que mudou; falta um basta nesse submundo político para virarmos um país correto". A observação merece uma discussão aprofundada. Por partes: 1 - A eliminação da inflação colocou o país em uma situação de razoável normalidade. Agora, o brasileiro pode conversar em condições de certa igualdade com qualquer europeu ou norte-americano, porque a agenda é, no essencial, a mesma. Antes não. Falávamos um dialeto incompreensível, centrado em como acabar com a superinflação. 2 - No governo Lula, acentuou-se essa normalidade com a eliminação (definitiva ou temporária, ainda está por se ver) das crises de balanço de pagamentos. Criaram-se, pois, quase todas as condições para acabar com os voos de galinha, uma maldição que durou décadas. A questão que o leitor levanta, se ele me permite uma livre interpretação, é a seguinte: uma economia que parece basicamente saneada pode voar quando o mundo político é tão podre como o era a economia nos tempos da superinflação? Minha resposta, por puro palpite, mas também por gosto, é "não". Mais cedo que tarde, até uma economia saneada bate no muro da podridão política. |
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