As faltas e o tabu
O GLOBO - 15/07/09
Nesta última rodada, esse relacionamento se revelou, mais uma vez, com muita clareza.
Não é a primeira vez, não é a décima, é apenas mais uma vez. No entanto, o assunto permanece como uma espécie de tabu.
Pouquíssima gente na mídia relaciona o número crescente de faltas, há muitos e muitos anos, aos técnicos, a suas táticas e à necessidade de vencer a qualquer preço, não importam quais sejam os meios.
Aqui no Globo, tivemos uma frase de Carlos Alberto Parreira antes da rodada: “Não precisamos ser violentos (...) Mas gostaria que o time (Fluminense) fizesse um pouco mais de faltas”.
Sim, Parreira ainda era o técnico do Fluminense. No círculo dos treinadores brasileiros, ele, Parreira, é um dos mais educados e muito provavelmente o mais instruído, muito acima mesmo da tosca média geral. Se ele já está pensando assim, imaginem os outros.
Os outros como, por exemplo, o técnico do Goiás, Hélio dos Anjos, autor de outra frase bem interessante, esta depois da rodada, reclamando das“ faltas táticas” do adversário, o Sport (claro, de Leão). “Eu sei o que é falta tática!!!”, bradava Hélio dos Anjos.
E sabe mesmo, quanto a isso não há dúvida. Hélio dos Anjos sabe o que é “falta tática”, pois é um dos que mais a utilizam. Depois do jogo de domingo, porém, ele reclamava das faltas táticas do “Outro”.
Vocês se lembram que, em palestra a aspirantes a treinador, um professor doutor desses defendeu o que chamou não de falta tática, mas de “falta inteligente”. (Inteligente como ele, naturalmente).
E onde entra o jornalista esportivo em tudo isso? Entra com o tabu: não se pode ou não se deve relacionar os técnicos à quantidade de faltas dentro de campo.
E chega a ser pitoresco, nas transmissões de tevê por exemplo, a variedade de explicações e interpretações de narradores, comentaristas e comentaristas de arbitragem, para as faltas, uma atrás da outra: é o juiz que marca faltas demais; é o estado do campo, molhado, escorregadio ou mesmo ruim; é o jogador que chega “atrasado” na bola; é o jogador que “não teve a intenção”; é a marcação muito forte; é a “pegada” ; é o nervosismo e assim por diante.
A falta nunca é intencional. Como se não ouvissem e não lessem os treinadores falando abertamente, em entrevistas e até em palestras, que seu time tem que fazer mais faltas, que deve empregar as faltas táticas, as faltas inteligentes ou que outra denominação inventarem.
No máximo, pode-se atribuir a falta ao jogador, ao brucutu. Aos técnicos, jamais. Pode-se criticar – e até com razão – o juiz que marca faltas demais. Mas o técnico – que manda fazer as faltas – não se critica.
Parece que ninguém sabe, não parece?
Há muitos anos começou a cair a qualidade do juiz de futebol brasileiro. Hoje em dia, ela é lamentável. Para combater o juizinho chato que marca falta em qualquer esbarrão, nasceu a corrente dos juízes “que deixam o jogo correr”.
Como os árbitros são ruins em qualquer corrente, e como não existe critério na direção da arbitragem brasileira, temos jogos em que se marca qualquer jogada de corpo a corpo e temos jogos em que não se marcam as faltas mais estúpidas.
O juiz hoje não pune ou deixa de punir porque foi falta ou não foi. Ele pune o que quer e quando quer. A verdade é que o futebol está cada vez mais violento.
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