O sentimento da honra foi revogado pelo abraço em Palmeiras dos Índios
“Primeiro a gente vota, depois a gente debate”, decidiu o senador Paulo Duque na abertura dos trabalhos da CPI da Petrobras, com a autoridade de presidente eleito pela certidão de nascimento. A suspeita de que o mais idoso inquilino da Casa dos Horrores anda tentando, aos 81 anos, primeiro calçar o sapato para depois colocar a meia só não virou certeza porque pesou o conjunto da obra. Veterano de guerra do PMDB fluminense, sargento reformado da tropa do cheque, Duque estava lá para repassar o cargo o quanto antes ao senador João Pedro, do PT do Amazonas, escolhido pela base alugada para presidir o enterro da CPI.
O Primeiro Coveiro informou que o relator seria Romero Jucá, do PMDB de Roraima, e marcou para agosto o começo do velório. ”Não há necessidade de polemizar, nem de politizar”, antecipou Jucá. Conjugados pelo n° 1 do ranking dos procurados pelo Banco da Amazônia, os dois verbos excluem da relação de depoentes o senador José Sarney e a ministra Dilma Rousseff. A maioria governista pretende poupar desse desconforto também o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Há pelo menos um argumento consistente: como atestou o pito telefônico que levou de Dilma, Gabrielli chora quando é repreendido.
Enquanto os três senadores da oposição oficial sonhavam com a formação de um quarteto que teria Fernando Collor como crooner, sorriam juntos em Palmeira dos Índios o presidente Lula e o caçador de marajás que, na campanha de 1989, caçou uma aventureira chamada Miriam Cordeiro para jurar na TV que o inimigo tentou obrigar a antiga namorada a interromper com um aborto a gestação da filha. O sonho do trio foi implodido pelas imagens do primeiro abraço trocado em público pelo autor da afronta e por quem a sofreu ─ e que, passados 20 anos, sofre de amnésia seletiva.
A revogação do sentimento da honra, consumada no interior de Alagoas, é a evidência mais contundente de que a abertura da caixa-preta da Petrobras apavora o coração do poder. Vale tudo para que o Brasil continue ignorando os segredos ali guardados. Talvez transformem os incontáveis espantos localizados nas catacumbas do Senado em coisa de delinquente aprendiz.
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